DENNIS HOPPER, 1936 - 2010

ENTREVISTA: TOM ZÉ


Tom Zé chega hoje a Curitiba para fazer três apresentações do show O Pirulito da Ciência, uma retrospectiva de sua carreira. Seguem os highlights do longo papo que tivemos (a versão empacotada saiu aqui).

"Minha luta, desde o princípio, é no sentido de manter o ouvinte atento. Para isso, me esforço para sobrepor camadas de informação durante o show, para fazer um trabalho de corpo. Tem sido assim desde que me descobri incapaz de fazer uma música para o mainstream, uma música perfeita, regular. Não tenho o pathos do cantor. Cantar para mim é pouco. Não consigo me imaginar só cantando durante 50 minutos."

"Todo acontecimento artístico novo vem acompanhado de inovações técnicas. Na Itália do Renascimento, os artistas não fizeram aquela revolução sozinhos. Eles tiveram por trás fabricantes de tintas e telas que duram até hoje. No Brasil, tem sido a mesma coisa com a música. Eu me lembro que, quando surgiu o hi-fi, o pessoal que trabalhava com os Românticos de Cuba já concebia os arranjos para aproveitar o potencial daquele som. Quando o João Gilberto entrou no estúdio pela primeira vez, já tinha um técnico lá pronto para fazer aquilo, com um microfone dinâmico ideal para gravar a voz dele. E até hoje o Brasil tem muita gente competentíssima nessa área, ao contrário do que muitos artistas dizem."

"Às vezes, você vai no fundo do lodo e encontra uma flor. É o meu caso com 'Atoladinha'. Naquele espetáculo, naquela cerimônia social da qual o som do funk participa, a mulher é degradada. E aí vem uma música com um refrão que combate isso, que traz um lancinante grito de liberdade da mulher. Quando toca essa música, ninguém pensa em uma pessoa caminhando com cuidado na lama. A letra fala dos líquidos da sexualidade correndo pelo corpo com toda a liberade. Isso é uma maravilha do ponto de vista da saúde, e também uma rebeldia terrível contra igreja, contra tudo. Repito o que já disse: 'Atoladinha' é multirrefrão, microtonal e plurissemiótica."

"É natural o preconceito do brasileiro contra os gêneros de música mais populares. Somos uma sociedade que quer sair do campo e ir para a universidade. E isso é uma merda. Mas o nordestino, por exemplo, como observou Euclides da Cunha, procede como um cientista, apesar de ser analfabeto."

"Todo mundo gosta de sertanejo, porque fala das coisas simples e boas da vida. Mas, para justificar, inventaram agora esse sertanejo universitário. Puta que o pariu, hein?"

"Não tenho nada contra o brega, o popular. Só não faço meia dúzia de pagodes e músicas caipiras porque não sei fazer. Tenho inveja desses artistas."

"A utilização das leis de incentivo é uma questão ética, como tudo mais em que uma sociedade se envolve. Mas o fato é que quem tem mais fama, levanta mais dinheiro. E o que foi criado para garantir a chegada do novo, do experimental, do criativo fica sem espaço. É um aproveitamento meio imoral dos recursos públicos"

"Me perguntaram se eu queria ser anistiado. Mas eu estudei em escola pública desde o ginásio, ganhei uma bolsa para continuar na faculdade, almocei no restaurante universitário. Então eu acho, na verdade, que tenho um débito para com a nação. Não posso receber isso que você chama de 'bolsa ditadura'."

"Só falo sobre esses assuntos de leis de incentivo, de dinheiro público quando os jornalistas me perguntam. Meu negócio é enfrentar a realidade de peito aberto, sem ser queixoso. Porque quem é queixoso não faz nada. Eu, não. Eu tenho ideias para transmitir. Queixa não levanta um povo para trabalhar, não faz cócegas na imaginação das pessoas."

EXPERIÊNCIA


Feche a loja da discussão e do mistério. Abra a casa de chá da experiência.
Idries Shah

CUIDADO COM O QUE VOCÊ DESEJA



Dica do João: o Coiote e o Papa-Léguas segundo o criador de Family Guy.

Está no DVD Seth MacFarlane's Cavalcade of Cartoon Comedy. Tem para baixar aqui (e com legendas).

O BAÚ DO IVO


O Ivan, filho do Ivo Rodrigues (1949-2010), postou esse registro do encontro entre o eterno vocalista do Blindagem com os Novos Baianos. Muito legal.

Isso me lembrou de uma entrevista que fiz com a banda, em 2001, na ocasião dos 20 anos do lançamento do primeiro LP. Uma das maiores lembranças dos músicos dava conta, justamente, de um desses encontros célebres. No caso, uma noitada de audição do disco na companhia do Gil, que tocava em Curitiba e se hospedou na casa do Leminski.

Deve ter mais coisa boa nesse baú do Ivo, não?

NÃO DESCONTE EM NINGUÉM


Outra dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Clique para ver melhor.

LEITURA DIÁRIA


O Meia Hora de hoje tá o bicho.

AS LEGENDAS SÃO ÓTIMAS


O remake de Fúria de Titãs é mais um exemplo do que eu venho chamando de "3D tardio", ou "3D de pós-produção". Ou seja: foi adaptado às pressas para o formato, na esteira do sucesso de Avatar.

O mesmo vale para Alice e Como Treinar o Seu Dragão. Mas este aqui é pior. Tive a impressão de que aturei 118 minutos usando aquele óculos desconfortável (e com as lentes manchadas depois de tanta higienização) para ver apenas legendas tridimensionais. Se existisse o Procon do Cinema, já teria dado queixa.

Como se não bastasse, o filme em si não passa de um amontoado de cenas de ação confusas, (des)amarradas por diálogos simplórios. Nem como comédia involuntária funciona - ainda que os figurinos, no estilo "desfile de fantasias do Hotel Glória", rendam umas risadas logo no começo.

Deu até um pouco de saudade da versão original (que, cá entre nós, já era trash para os padrões dos anos 80).

HISTÓRIAS!


Para o inferno com os fatos! Nós precisamos de histórias!
Ken Kesey

TRAILER RETRÔ (14) - PORKY'S, 1982

SACUDIDELA FÁLICA


A obscena sacudidela do polegar, ainda de uso comum na Sardenha, confunde-se facilmente com o sinal amigável de polegar para cima ou o sinal de pedir carona com o polegar.

A mensagem sarda é "sente-se em cima disto", o que causou às vezes problemas para estrangeiros pedindo carona nessa região.

A sacudidela fálica do polegar vai desaparecer, provavelmente, enquanto o polegar amigável para cima se espalha cada vez mais pela Europa.


Extraído da obra de Desmond Morris.

BEM DO JEITO QUE VOCÊ IMAGINOU


Esse novo Robin Hood, que conta a origem do personagem, é exatamente como você imaginou. Uma superprodução com muito fogo, flechas voando para todo lado e reconstituição histórica impecável (com direito a um pano de fundo político interessante).

O problema é a duração, que quase bate nas duras horas e meia. Eu, para variar, aproveitei para tirar um cochilo nas sequências, digamos, "emotivas".

Mas se esse for o tipo de filme que você curte, cai dentro. Até porque, se emplacar nas bilheterias, certamente terá uma continuação.

ENTREVISTA: SÉRGIO DIAS (OS MUTANTES)


Aproveitei que Os Mutantes tocaram por aqui e fiz uma entrevista rápida com o Sérgio Dias. Em pauta, a desconfiança da imprensa brasileira (ou de parte dela) com relação à formação da banda sem o Arnaldo Baptista. Seguem uns trechos brutos A versão para o consumidor final (hehe) está aqui.

"Olha, lindo. A problemática é a mesma desde que a banda nasceu. E acredito que aconteça com você também, na sua profissão. Aqui no Brasil, a gente sofre uma repressão imensa. Temos que fazer as coisas do jeito que esperam que a gente faça. Nos anos 60, me disseram, por exemplo, que uma música como 'Balada do Louco' não iria chegar a lugar nenhum."

"O Brasil ainda vive uma enorme depressão por causa da ditadura militar, que resultou numa devastação cultural. O brasileiro está com muita raiva. No trânsito, nos bares, na crítica musical. Até sexualmente. Vão tomar banho! O Arnaldo sempre entra e sai da banda. O que eu posso fazer? Isso é problema dele. É problema da Rita Lee. Deixa eu viver o que a vida está me trazendo. As pessoas têm que entender que Os Mutantes não são mais só do Brasil."

"O Dinho é um cara fenomenal. Tem uma importância imensa dentro d'Os Mutantes. É por causa dele que a banda voltou. O Dinho ficou 25 anos sem tocar. Porque a música não faz sentido para ele se não for com Os Mutantes. Ele sempre foi o mais ponderado, o mais pé no chão. Um contraponto ao comportamento volátil da Rita, do Arnaldo e meu. É muito sério em tudo o que faz. Por isso, quando ele disse "Eu toco", entendi como a coisa era realmente forte.''

"Quando você entra embaixo da estrela d'Os Mutantes, é outra energia. É algo intangível, nada concreto, que só o artista consegue entender. Há coisas neste disco novo que eu nunca faria na minha carreira-solo."

NOSSO PRODUTO DE EXPORTAÇÃO


Videos tu.tv

Para quem ainda não viu, taí... O "local" Maurício Shogun é o novo campeão do UFC.

Não que eu seja bairrista. Muito pelo contrário. É o tipo de comportamento de quem não se garante sozinho.

Mas entre os lutadores de vale-tudo e os manés que tradicionalmente representam a cidade, sou mais os primeiros. Vai dizer que eles não são o maior produto de exportação da província?

A gente tinha que ser bom pelo menos em alguma coisa, né?

De resto, reconheço: de Brecht para UFC foi demais...

NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR


Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.


Bertolt Brecht

ENTREVISTA: EMICIDA


Hoje tem show do Emicida em Curitiba. Segue, abaixo, a versão crua (ou quase isso) da entrevista que fiz com ele para o jornal. A matéria "oficial" está aqui.

Por que você preferiu lançar o primeiro trabalho no formato de mixtape, em vez de soltar logo um álbum "oficial"?
É uma mixtape por ser uma parada bem momentânea. Tá certo que ali existem canções de 10 anos, mas são várias fases das minhas rimas. Por isso achei melhor fazer uma mixtape. E tem mais. Na minha cabeça, fazer um album é fazer algo muito maior. Minha carreira vem sendo contruída há anos, com passos pequenos. Lançar uma mixtape pra ter um trabalho físico e chegar a um público maior foi apenas mais um desses passos. Começamos a pensar no álbum oficial agora.

E quando vai sair esse primeiro disco?
Não posso te dar uma data, estamos começando a gravar outra mixtape. Adoro fazer mixtapes. É mais rápido, é um mercado pouco explorado no Brasil. Você não vê muitas circulando por aí e aparecendo nos veículos de comunicação. Quero alimentar todos os tipos de público que se interessam pelo meu trabalho. Conheço os irmãos do rap, mas sei que já não canto apenas pra eles. E as mixtapes servem para que eu esteja mais próximo desses irmãos que consomem rimas adoidado. Um disco vem com uma proposta maior, na minha perspectiva. Mais musical, talvez, com intenção de fazer barulho realmente. Mas ele tá chegando já.

O disco vai ter músicas já conhecidas? Quem está envolvido na produção? Vai ter participações especiais?
Meu disco será totalmente inédito. Não posso te adiantar quem vai estar envolvido, mas sei que quero colocar algumas pessoas em que acredito muito. Tipo Felipe Vassão, Damien Seth, o Nave daqui de Curitiba e uma cantora de Brasília chamada Ellen Oléria. Mas ainda é cedo, tem pouca coisa escrita pra ele. Muita idéia, mas pouca coisa.

Qual o papel das batalhas de MCs no desenvolvimento e divulgação da sua carreira?
Sempre vi as batalhas como um estudo, a possibilidadede de crescer junto com alguém que faz a mesma coisa que você. Por isso me envolvi. A tiração de onda e o resto vêm também, mas pra mim o negócio é o estudo. Sou um improvisador, gosto de minha arte acima de tudo. Onde eu acreditar que ela é respeitada no máximo grau, irei expor ela. Você está ali, próximo do público, semanalmente. No meu caso foi assim. Aí me liguei que tinham pessoas nos eventos que não iam ver batalhas. Tinham pessoas que iam ver as minhas batalhas. Achei que era o momento de fazer as minhas coisas e acertei. Me afastei um pouco das batalhas por achar que estava virando um concurso de piadas, em vários casos. Optei por fazer improvisos em meu show e trabalhar minhas músicas daqui pra frente. Mas quem achar que eu tô enferrujado é só marcar. (risos)

Há, no Brasil, um certo preconceito com o chamado "rap comercial". Inclusive, muita gente coloca no mesmo balaio artistas como Lil' Wayne, 50 Cent, Jay-Z, Eminem, etc. (como se fossem todos iguais). O que você pensa disso?
Na verdade eu não vejo assim. Esses nomes que você citou, por exemplo, gosto de todos. Admiro esses caras enquanto artistas, acho que o Jay-Z é o melhor do mundo. Eu, particularmente, odeio divisões. É tudo rap, batida e rima. Uns com auto tune, uns com sampler, outros com sintetizador e banda. Mas é tudo rap. As pessoas adoram separar as coisas dizendo que um presta e o outro, não. Lutam contra isso quando alguém faz o mesmo com elas e ficam de um lado que não acreditam ser o que elas merecem. Em resumo, vagabundo fala de tudo. Fala deles, fala de mim, fala de você e disso aí eu já desencanei porque não muda. Lutamos contra o preconceito há anos e ele tá aí mais forte do que nunca. Às vezes, penso que as pessoas precisam dele pra se esconder atrás de alguma coisa e não resolver os verdadeiros problemas.

Qual a importância do samba na sua formação musical? Pretende se aprofundar, ainda mais, na mistura com o rap?
Cresci escutando muita coisa. Fundo de quintal, Reinaldo, Jorge Aragão, Lecy Brandão, Cartola. Então era impossível isso não refletir na minha música. Você nasce em uma cidade, tem o sotaque de lá. Meu lugar é o samba. O rap chegou um pouco depois, e eu amo rap. Mas, pra mim, a música mais louca que tem é o samba. Jazz é da hora também, mas nada se compara ao samba. Quero me envolver mais nisso. O D2 tem uma parada bem louca nesse sentido, mas quero me envolver mais com a musicalidade dele de uma forma subjetiva, com a essência disso. Sou um MC e quero trazer o que considero positivo pras minhas rimas, mas sem deixar de ser rap. Tendo violão e pandeiro ou não, o samba estará lá.

Conhece bem a cena hip-hop do Paraná e de Curitiba? Destaca algum nome?
Conheço a cena do Brasil todo, graças a Deus. Tem gente pra caramba trabalhando por aqui. Por exemplo, vocês tem aqui o Nave, que produziu coisas muito boas pro Marcelo D2, o Dario, o Laudz. Alguns dos melhores beat makers do Brasil estão aqui. Tem nas rimas o Nel Sentimentum, a Karol Conká, o Bigue. Todos vão se apresentar com a gente na sexta-feira. Vale a pena conhecer, quem ainda não ouviu falar dessa rapaziada. É chegar no baile e gritar "A rua é nóiz" com todo mundo.

VERSÃO AMPLIFICADA


Homem de Ferro 2 é mesmo uma versão "amplificada" da primeira parte.

Tem mais ação, humor, efeitos, tiros, mulheres, ficção científica, sentimentalismo e, principalmente, dinheiro. Não à toa, o filme é uma grande vitrine das novas tecnologias que vêm por aí (armas, carros, softwares).

E o Downey, hein? Para mim, é o melhor intérprete de super-herói no cinema até aqui. Foi além do registro correto de um Tobey Maguire, ou de um Hugh Jackman, e realmente se apropriou do personagem.

Mas vai dizer que ele não está a cara do George Michael? Só faltou cantar "Freedom"!

NADA


Dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Clique para ver melhor.

"CAÇADORES DE PERU"


— Essa gentinha sacana faz de tudo para te destruir. São caçadores de peru. Sabe como se caça peru? Atirando naquele que levanta a cabeça. Aqui só sobrevive quem não se sobressai. Por isso é uma cidade tipicamente classe média. (...)

— Quem continua comandando a cidade? Veja os sobrenomes. Caramba, tudo na mão deles, uma elite que não produziu nada de importante, apenas administrou riquezas, controlando posições de mando. (...)

— Agora tire a contribuição do pessoal do interior, dos que vieram de outros estados, o que sobra de Curitiba? (...) Tudo aqui é importado. Falsamente europeia. Uma cidade que copia estilos, dirigida por imitadores.


Miguel Sanches Neto em Chá das Cinco com o Vampiro.