UM GALÃ SEM PEGADA?


Pegue o galã do momento. Acrescente dois vencedores do Oscar. Tempere com um bicho fofo. Coloque tudo numa história romântica e de época, baseada em um best-seller internacional. Taí a receita de Água para Elefantes, em cartaz a partir de hoje nos cinemas do país.

Trata-se da primeira grande produção estrelada por Robert Pattinson depois do estouro da saga Crepúsculo. E também um teste para o ator, que aqui desempenha um papel mais complexo, adulto. A boa notícia para as fãs é que o rapaz se sai razoavelmente bem com seu bronzeado natural (ou seja, sem a maquiagem pálida do vampiro Edward).

Versão do livro homônimo da canadense Sara Gruen, o filme do diretor Francis Lawrence (Eu Sou a Lenda) narra a jornada de Jacob Jankowski. Descendente de poloneses, ele estuda para ser veterinário durante a Depressão americana. Quando seus pais morrem, repentinamente, o rapaz fica na miséria e acaba acompanhando um circo.

Um circo à moda antiga, diga-se. Com direito a animais, atrações bizarras, jogos de azar e até uma tenda "paralela" com shows eróticos. Algo totalmente diferente dos espetáculos politicamente corretos e higienizados da era Cirque du Soleil.

A magia, no entanto, só existe embaixo da lona. Nos bastidores, as condições de trabalho e sobrevivência são insalubres. As pessoas trabalham em regime de semi-escravidão, enquanto os animais sofrem todos os tipos de maus tratos. É nesse ambiente contraditório que o personagem vai amadurecer na marra.

Educado e gentil, Jacob logo chama a atenção do dono da companhia, August (Cristoph Waltz, o nazista poliglota de Bastardos Inglórios, papel que lhe deu o Oscar de melhor ator coadjuvante no ano passado). Uma figura ao mesmo tempo fascinante e cruel, que trata com tirania até mesmo sua companheira, Marlena (Reese Witherspoon, premiada com a estatueta dourada por Johnny e June).

Obviamente, inicia-se um triângulo amoroso que não vai acabar bem. Ou melhor: um quadrado, já que lá pelas tantas surge uma elefanta no caminho dos protagonistas. Rosie é o nome da paquiderme, estrategicamente inserida na trama para levantar a questão dos direitos dos bichos (causa defendida pela autora do livro).

De resto, não há muito o que se dizer sobre Água para Elefantes - um filme todo "certinho" do ponto de vista técnico, porém pouco empolgante. A começar pelo próprio romance entre Jacob e Marlena, que não pega fogo em nenhum momento. Como em Crepúsculo, Pattinson fica novamente devendo. Não como ator, mas no quesito pegada.

CURSINHO INTENSIVO DE HUMILDADE


O realismo sempre foi uma das grandes marcas dos quadrinhos da Marvel Comics. Seus personagens são indivíduos comuns, que ganham superpoderes por algum motivo explicado pela ciência - mas continuam tendo de lidar com os problemas e dilemas típicos de qualquer mortal. É assim com Homem de Ferro, Homem-Aranha, Hulk, X-Men, Demolidor, etc.

Uma rara exceção é Thor, cuja adaptação para o cinema estreia amanhã no circuito brasileiro. Inspirado na mitologia nórdica, o Deus do Trovão se divide entre a Terra e uma dimensão paralela que transcende a compreensão humana. Um universo, convenhamos, bem mais difícil de ser transportado do papel para a tela.

Difícil, porém possível. Graças a um roteiro fiel à história original e toneladas de efeitos especiais de ponta, o filme cumpre corretamente a tarefa de apresentar o herói. E vai além, deixando ganchos importantes para Os Vingadores, longa que vai reunir alguns dos principais personagens da Marvel em 2012.

Com Chris Hemsworth (de Star Trek) no papel principal, Thor concentra boa parte de sua ação no reino mágico de Asgard, onde o filho de Odin se prepara para herdar o trono. A transição, no entanto, não acontece como o previsto. Arrogante e impulsivo, o loirão põe em risco seu povo e perde a coroa para o irmão, Loki (Tom Hiddleston).

Banido e desprovido de poderes, ele vai parar no deserto do Novo México. Lá, conhece a cientista Jane (Natalie Portman) e faz uma espécie de cursinho intensivo de humildade. Ou seja: está pronto para retomar sua missão épica e salvar os asgardianos da ameaça de seus inimigos milenares, os Gigantes de Gelo.

Essa redenção simplista é o ponto fraco de uma produção que prometia um pouquinho mais de profundidade. Afinal, foi dirigida pelo inglês, de formação "shakespeareana", Kenneth Branagh, cujo currículo inclui uma versão intensa e eletrizante de Frankenstein (estrelada por Robert De Niro). Aqui, pelo visto, ele teve de fazer concessões visando à audiência infantil.

Thor, portanto, não se enquadra no rol das adaptações de quadrinhos capazes de encantar os adultos leigos no assunto. Para essa fatia do público, o filme talvez funcione apenas como um concurso de cosplay - ou de fantasias do Hotel Glória, se você é do meu tempo.

DESENHO COM DATA DE VALIDADE


A nova empresa de animação Illumination Entertainment parece já ter encontrado um nicho de mercado: os desenhos para as crianças pequenas. Foi assim com seu primeiro projeto, o bem-sucedido Meu Malvado Favorito (2010), cuja principal marca era justamente deixar de lado o humor esperto e as referências pop que os pais tanto curtem em títulos como Shrek e Monstros vs. Alienígenas.

Menos de um ano depois, a companhia volta a bater nessa tecla, dessa vez com Hop - Rebelde Sem Páscoa, que estreia hoje no país. Espécie de "Alvin e os Esquilos com coelhos", a produção combina personagens animados com atores de carne e osso para contar uma história completamente ingênua. O problema é que o filme parece ter sido feito a toque de caixa. E não deve durar muito na memória dos pequeninos (quanto mais na dos pais).

Com direção de Tim Hill (o mesmo de Alvin), Hop começa na Ilha de Páscoa, onde o pequeno Junior é preparado para substituir o pai, o próprio Coelho da Páscoa, na missão de fabricar e distribuir doces. Enquanto isso, em Los Angeles, um menino chamado Fred cresce com a certeza de que um dia viu o comedor de cenoura deixando uma cesta com chocolates na porta de sua casa

Vinte anos depois, Junior quer ser baterista profissional - e foge para Hollywood em busca da fama. Já Fred (James Mardsen, de Encantada), desmotivado para o trabalho, é pressionado pelos pais a amadurecer na marra. Os dois acabam se cruzando e, juntos, "aprontam as maiores confusões", como diria o locutor dos comerciais da Sessão da Tarde.

Como em Alvin, Zé Colmeia, Garfield e outras produções do gênero, os bichinhos nem sempre casam direito com os personagens humanos. Não à toa, as melhores sequências do filme se passam na fábrica de doces, com seus pintinhos operários e engenhocas no estilo Willy Wonka. O destaque, por sinal, fica por conta do pinto-chefe, Carlos, o mau-humorado braço direito do Coelho da Páscoa.

Mas tanta cor e fofura não compensam o roteiro preguiçoso e a atuação infantilizada (no pior sentido do termo) de Mardsen. Resta fazer o teste com quem realmente interessa. Se as crianças saírem do cinema já pensando em lanchar, é porque Hop tem mesmo uma data de validade: o domingo de Páscoa.

ENQUANTO SEU LOBO NÃO VEM


As chamadas na tevê de A Garota da Capa Vermelha avisam que o filme é "da mesma diretora de Crepúsculo". Porém, se os marketeiros fossem mais diretos, o apelo seria: "Calculadamente parecido com Crepúsculo". Em cartaz a partir de amanhã no Brasil, a nova versão de Chapeuzinho Vermelho é um prato cheio para os fãs da saga teen vampiresca - mas pode causar uma certa indigestão nos maiores de 16 anos.

Aqui, a cineasta Catherine Hardwicke e o roteirista David Leslie Johnson (do ridículo A Órfã) transportam a personagem para uma vila sombria e medieval. A expressiva Amanda Seyfried (de Mamma Mia!) é a protagonista, Valerie, cobiçada por dois rapazes. Por imposição da família, ela deve se casar com o abastado Henry (Max Irons). No entanto, seu coraçãozinho bate mesmo pelo pobretão Peter (Shiloh Fernandez).

Se esse fosse seu único problema, tudo bem. Mas um lobisomem que ronda o povoado há gerações volta a atacar, e a moça se vê no centro da confusão. Como se não bastasse, um padre maluco e caçador de bestas (vivido por Gary Oldman) garante que o bichão é, na verdade, um morador do local. Valerie, então, começa a duvidar de todos que a cercam, inclusive dos membros de sua família.

Além do triângulo amoroso juvenil e da presença sobrenatural, A Garota da Capa Vermelha guarda outras semelhanças com Crepúsculo. Os diálogos são empolados, a direção de arte é cafona e a fotografia não vai além da cosmética dark. Para piorar, a trilha sonora moderninha, que deveria criar um contraponto com a ambientação retrô, acaba bagunçando ainda mais o coreto.

A história só cresce nos últimos 15 minutos, quando ganha contornos psicanalíticos - e deixa o espectador adulto com a sensação de que o projeto original era realmente interessante. Pena que o público-alvo seja tão bobinho. Ainda assim, fica uma aviso para os pais: o filme tem algumas sequências violentas e sensuais, não muito indicadas para os pré-adolescentes.

MULHERES NÃO MACHUCAM?


Da inesgotável série Releases Inesquecíveis.

Mulheres não machucam? Sugestão de Pauta.

(...) ‏"Femear é a feminilidade e a fertilidade das artes, a sutilidade e a força de cada voz, a semente que desabrocha em cada flor e canto".

Femear é uma palavra inventada para expressar o sentido inverso e proporcional a "machucar". Machucar vem etmologicamente da palavra "macho, viril, varão". No entanto, mulher não é macho para machucar, mulher tem um jeito próprio para "sofrer danos" e "provocar danos".

O Projeto Femear é a reunião de canções compostas pela pesquisa de XXXXX e parcerias, com arranjos e execuções de XXXXX. São 14 músicas, 7 cantoras, 3 países e 1 conceito.

(...) Financiamento Solidário

O Projeto Femear será lançado exclusivamente pela internet e o objetivo é que os internautas doem recursos para a montagem do espetáculo Femear, o qual reunirá todas as cantoras participantes do projeto num show ao vivo.

A idéia é que a valorização do trabalho artístico realizado seja numa lógica de cooperação e solidariedade. Ou seja, a visão é que o público se apaixone pelas cantoras, pelas canções e pelo projeto e que queiram cooperar mutuamente para conseguir reuni-las num show as co-produzindo e co-financiando.

O ESPECTRO


Todo homem está sob o poder de seu espectro
Até que chegue a hora
Em que sua humanidade desperta
E lança seu espectro no lago


William Blake em The Book of Los.

FALTOU FUNK


Com o cacife de quem comandou o filme mais assistido no mundo em 2009 (A Era do Gelo 3), o brasileiro Carlos Saldanha se viu autorizado a puxar a brasa para a própria sardinha. E desfrutou dessa liberdade muito bem, como se pode conferir em Rio, uma das animações mais bonitas, visualmente falando, já produzidas pelos estúdios americanos.

Em cartaz a partir de hoje, o desenho também é o maior lançamento da história da 20th Century Fox no país. Uma estratégia ousada, que inclui a exibição em mil salas (em cópias tradicionais e 3D) e uma campanha publicitária onipresente. Até a prefeitura carioca entrou no embalo, bancando uma ala inteira da escola de samba Salgueiro dedicada aos personagens.

Rio começa com um balé de pássaros, que rapidamente são caçados por traficantes de animais silvestres. Entre os capturados está o protagonista, Blu, uma arara-azul bebê que ainda não aprendeu a voar. Seu destino é uma cidade gelada dos EUA, onde ele felizmente recebe um tratamento de "gente" por parte de sua dona, Linda.

Sua rotina pacata é interrompida com a chegada de Túlio, um biólogo brasileiro que quer levá-lo ao Rio de Janeiro, para cruzar com a última fêmea da espécie. Acompanhado de Linda, ele chega à cidade em plena movimentação carnavalesca - com direito a dicas das aves "malandras" do pedaço e foliões sambando com pouca roupa no meio da rua.

Logo depois que Blu conhece a arara Jade, o pior acontece. Os dois são sequestrados por contrabandistas e vão parar num barraco de favela, onde centenas de outros pássaros estão engaiolados, prontos para serem vendidos. E o casal que até então não tinha química terá de superar suas diferenças para sobreviver.

O choque cultural, portanto, é o tema central de um filme que apresenta duas visões do Brasil. De um lado, há a paixão (e uma certa nostalgia) de Saldanha, que concebeu e dirigiu o projeto. Do outro, os inevitáveis estereótipos tupiniquins que fazem parte do imaginário dos americanos responsáveis pelo roteiro.

Sendo assim, o Rio de Janeiro romantizado da tela não chega a incomodar os nativos. Pelo contrário. Os cenários são tão caprichados que os adultos até ignoram os clichês, as piadas fraquinhas e o ritmo meio morno de parte da história. O único senão é a constrangedora trilha sonora de Sergio Mendes - uma mistura de Broadway com batucada para gringo ouvir. Faltou mais funk nessa receita (e, pensando bem, de modo geral).

UM ABSURDO!


Fúria sobre Rodas é um absurdo. Uma mistura nonsense de violência, armas, álcool, perseguições automobilísticas, mulheres nuas, caipiras americanos, magia negra... E tudo isso em 3D!

Dirigido por Patrick Lussier (de Dracula 2000 e do remake de Dia dos Namorados Macabro), o filme traz o endividado Nicolas Cage como protagonista. Sempre à vontade no papel de canastrão, o astro vive Milton, um ex-presidiário sedento por vingança. Sua filha foi assassinada pelo líder de uma seita satânica, que agora pretende sacrificar a neta dele.

A bordo de um carrão antigo e acompanhado de uma garçonete gostosona (Amber Head, de Zumbilândia), o personagem, sem muito papo, inicia uma trilha sangrenta em direção ao líder do grupo (Billy Burke, da saga Prepúcio, digo, Crepúsculo). Mas logo descobrimos que Milton não saiu exatamente de uma penitenciária - e sim do quinto dos infernos!

Isso explica sua indestrutibilidade, explorada em sequências esdrúxulas e bizarras. Em uma delas, só para se ter uma ideia da maluquice, o "motorista fantasma" mata uma penca de fanáticos com uma mulher pelada no colo, enquanto bebe uísque direto da garrafa. Inacreditável.

Vale destacar também a participação do figuraça William Fichtner. Conhecido do público pela série de televisão Prison Break (e coadjuvante em inúmeras produções de Hollywood), o ator rouba a cena na pele do misterioso "Contador". Bem que poderiam fazer um filme só dele.

Resumindo, Fúria Sobre Rodas é um divertido trash de luxo, no melhor sentido que o termo pode ter. Ou seja, traz todos os elementos caros ao gênero, mas com um acabamento, digamos, profissional. Altamente indicado para adolescentes espinhentos - e marmanjos que ainda guardam um pouco de sua porção juvenil.

Sobre a versão em 3D, uma boa notícia: este é um dos raros casos em que o formato realmente funciona. Ponto para o diretor, que já havia utilizado a tecnologia em Dia dos Namorados Macabro e deve ir além em seus próximos projetos (uma refilmagem de Hellraiser e o enésimo capítulo de Halloween).

PS - A trilha sonora também é o bicho, com músicas de T.Rex, Peaches, Raveonettes, Unkle, Everlast.