OSCAR 2011 - UM RANKING PESSOAL


Só terminei de ver os dez indicados a melhor filme esta semana. Acho que vai dar O Discurso do Rei (o Shakespeare Apaixonado de 2011). Mas, em nome da novidade, torço por A Rede Social. Na real, não morro de amores por nenhum deles. Taí meu saldo final dessa safra bem mediana.

1. Inverno da Alma

2. Bravura Indômita

3. O Vencedor

4. Minhas Mães e Meu Pai

5. A Rede Social

6. O Discurso do Rei

7. A Origem

8. Cisne Negro

9. 127 Horas

10. Toy Story 3

MENINAS, EU VI


Consegui escrever um texto "isento" sobre o filme do Justin Bieber. Para a Folha, claro.

"Você não gosta de mim, mas sua filha gosta". Taí um verso adequado para ilustrar a ascensão relâmpago do astro teen Justin Bieber. Motivo de piada entre os mais crescidinhos, o garoto de 16 anos simplesmente não precisa da aprovação do público dito inteligente. Sua base de fãs é tão grande (e fiel), que ele pode até lançar um longa-metragem para o cinema e, ainda assim, fazer sucesso.

E é justamente essa a mais recente cartada de sua carreira (cujo prazo de validade ainda é uma incógnita). Em cartaz a partir de amanhã no Brasil, Justin Bieber – Never Say Never é um improvável documentário sobre seu histórico artístico de apenas dois anos – e um único disco de estúdio. Mas, por incrível que pareça, o filme não é uma bomba completa. Ao contrário, pode render um programa divertido em família.

Dirigido por Jon Chu (um especialista em vídeos de dança), o longa mescla números musicais, registros pessoais do menino e bastidores de sua turnê mundial. O ponto de partida é a contagem regressiva para o maior show da vidinha dele, no "templo" do showbiz americano, o Madison Square Garden. Faltando dez dias para a apresentação, agentes, assessores e parentes recontam a trajetória do pirralho.

Filho de pais adolescentes, que logo se separaram, Bieber foi criado numa cidade pequena no interior do Canadá. Cercado por músicos, amigos de sua mãe, teve acesso a instrumentos desde cedo, e aprendeu a tocar vários deles sozinho. Não demorou muito e começou a participar de concursos de talentos, interpretando canções dos mais variados gêneros com uma qualidade vocal indiscutível.

Mas foi graças a internet que seu conto de fadas realmente teve início. Para mostrar os dotes do filho aos parentes de outras cidades, Pattie Bieber passou a registrar suas performances e publicá-las no YouTube. Os vídeos chamaram a atenção de um produtor de Atlanta (EUA), que tinha contatos com nomes quentes da indústria como Usher e Jermaine Dupri. O resto é história.

É verdade que o dom natural de Bieber foi soterrado por camadas de superprodução pasteurizada. Nesse sentido, os números musicais (em 3D) de Never Say Never acabam sendo proibitivos para quem não é fã do garoto (ou seja, qualquer um com mais de 12 anos). O filme, no entanto, tem outro trunfo capaz de atrair a atenção dos mais velhos: descreve a anatomia de um fenômeno pop.

Entre uma canção e outra, o espectador acompanha , passo a passo, a construção do ídolo. Um processo árduo, trabalhoso, que incluiu uma maratona de ensaios, gravações, shows, visitas a emissoras de rádio, etc. A prova de que mesmo os artistas fabricados precisam ralar muito para chegar em algum lugar. E não interessa se o "produto" tem somente 16 anos – o que importa é ser profissional acima de tudo.

Tanto que a personalidade de Bieber é irrelevante para o documentário, cujo rol de entrevistas não traz um papo mais profundo com o astro. O que não deixa de ser curioso, pois sua carreira é um reality show em si. Ainda assim, Never Say Never cumpre bem seu papel. Se você se interessa pelo funcionamento do showbiz , e é pai ou mãe de meninas, vá ao cinema sem medo.

TRANSE


Direi toda a verdade, e outros continuarão o que comecei. Quero falar, e não escrever romances. Os romances nos impedem de compreender os sentimentos.

Quero dizer tantas coisas e não encontro palavras. Escrevo em transe, e esse transe se chama sabedoria. Todo homem é um ser racional. Não quero seres irracionais, quero todo o mundo em transe de sentimentos.

(...) Não quero ser curado. Não tenho medo de nada exceto da morte da sabedoria. Quero a morte da mente. A mente é estupidez.


Vaslav Nijinsky, em seu diário.

ENTREVISTA: ITAÉRCIO ROCHA (GARIBALDIS E SACIS)


Pra Fôia. A foto eu peguei por aí, mas é da Anaterra Viana.

FOLIA E RESPONSABILIDADES

Bloco pré-carnavalesco curitibano tem o desafio de administrar o próprio sucesso

Já está virando tradição. Durante os quatro domingos que antecedem o Carnaval, o desfile do bloco Garibaldis e Sacis atrai uma multidão de foliões e curiosos ao centro histórico de Curitiba. Uma movimentação iniciada em 1999, mas que tomou corpo para valer nos últimos três anos. Tanto que, agora, os organizadores da festa admitem ter um desafio pela frente: administrar o próprio sucesso.

"Estamos vivendo uma nova ordem", afirma o artista Itaércio Rocha, também conhecido na cidade por seu trabalho com o grupo Mundaréu. Um dos fundadores do bloco pré-carnavalesco, ele conta que a preparação para a temporada deste ano incluiu uma série de medidas burocráticas. Da transformação dos Garibaldis em "pessoa jurídica" ao estabelecimento de parcerias com órgãos públicos.

Outra providência nesse sentido foi pagar o Ecad (entidade que arrecada e distribui os direitos de obras musicais no Brasil). As duas partes chegaram a um acordo, reduziram custos, e o valor final ficou em cerca de R$ 1.600 para os quatro desfiles. Bem menos dos que os R$ 4 por folião que consta na tabela oficial - e, provavelmente, inviabilizaria a festa.

"Concordo que o compositor deve receber pelas suas canções. Eu mesmo gostaria, um dia, de receber pelas minhas", diz Itaércio, que ainda abre mão dos direitos da próprias marchinhas. Aliás, há quem aponte que o bloco vem tocando cada vez menos os temas autorais e priorizando os clássicos ("Cabeleira do Zezé", "Mamãe Eu Quero", "Maria Sapatão" e afins).

"Não é nada isso. A gente só está inserindo as canções da gente no meio das tradicionais. Do contrário, a festa não emplaca, não dá liga. Carnaval é isso, é criar conexões locais com músicas do mundo inteiro. O negócio é misturar Braguinha, Michael Jackson e (a cantora curitibana) Melina Mulazani", explica.

Em volta do carro de som, também se comenta sobre a seriedade de Itaércio na condução do desfile - como se o comandante do bloco fosse o que menos se divertisse. "Fico em função da plateia. Não estou lá de Ivete", brinca. "A gente almejou o sucesso, trabalhou por ele. Agora temos que resolver tudo isso", completa.

"Tudo isso" significa, entre outras atitudes, conscientizar os foliões sobre questões de segurança, organização e limpeza. E também interromper a farra para fazer agradecimentos, digamos, institucionais (citando órgãos como a Fundação Cultural, Diretran, secretarias do Meio Ambiente e do Turismo, etc.).

Mas essa "nova ordem" não pode prejudicar a espontaneidade da festa? Para Itaércio, os Garibaldis devem se preocupar em preservar dois elementos básicos: a alegria e o caráter comunitário. De resto, ele garante que não tem maiores planos para o futuro. "Meu desejo é que apareçam outros blocos, como já estão aparecendo. E que essa experiência estética, festiva e coletiva continue".

Batizado com esse nome por causa de seu itinerário original - entre o Saccy Bar e a Praça Garibaldi -, os Garibaldis e Sacis já chegaram à metade da temporada 2011. Ainda faltam dois desfiles: neste domingo e no dia 27. E, apesar de a organização pedir contribuições simbólicas (para pagar o Ecad), o evento é livre para quem quiser aparecer.

O PASSAGEIRO DA AGONIA


Indicado a seis Oscars, mas proibido para pessoas muito sensíveis. Esse é o apelo de 127 Horas, que chega por aqui depois de causar desmaios, vômitos e até um ataque epilético mundo afora. Tudo por causa de uma cena extremamente forte e realista, que obrigou o próprio diretor a pedir desculpas para o público após as primeiras exibições.

Estrelado pelo valorizado James Franco, o filme combina aventura, drama e suspense para narrar a história real do americano Aron Ralston. Em 2003, ele trabalhava como engenheiro e passava o tempo livre explorando montanhas e cânions. Até que, durante um passeio solitário, caiu numa fenda e ficou com o braço preso numa rocha.

Ralston lutou pela sobrevivência ao longo de quase cinco dias. Ferido e praticamente sem suprimentos, bebeu água da chuva e a própria urina. Um verdadeiro martírio, pontuado por lembranças do passado, devaneios e alguns momentos de autoironia – registrados por ele com uma câmera digital.

Sete anos depois, o cineasta Danny Boyle tenta transformar essa jornada numa experiência de imersão para o espectador. E consegue. São 95 minutos de pura tensão, “arejados” apenas pela conhecida agilidade de sua direção (marcada por câmeras de mão, cortes rápidos, uso esperto da trilha sonora).

Mais do que isso, é melhor não revelar. Afinal, a história de Ralston não é muito conhecida no Brasil, o que pode garantir uma surpresa ao fim da sessão. De qualquer forma, fica o aviso: se você não aguenta ver o sofrimento alheio (como eu), evite 127 Horas. Ou então prepare o estômago e feche os olhos quando o bicho pegar (como eu).

PS – Pirando depois da cabine, brinquei que o filme é uma mistura de A Praia, Na Natureza Selvagem, Bruxa de Blair e Jogos Mortais. Assiste e depois me diz se não faz sentido.

CABEÇA COM CABEÇA


Cabeça com cabeça. O aspecto essencial desse sinal-vínculo é o modo como incapacita o casal a executar outras atividades.

Tocando-se mutuamente com a cabeça ou sentando-se de rosto colado, eles estão efetivamente dizendo: "Para nós é mais importante nos tocarmos do que estar alerta para fatos exteriores".

Esta é uma ação excludente, que separa o par do resto de nós.


Extraído da obra de Desmond Morris.

SOU O PÚBLICO-ALVO


Sou o público-alvo de Sentimento de Culpa. Uma daquelas produções americanas pequenas, baratas, curtas, sobre os problemas de gente comum... Parafraseando o supracitado filósofo Álvaro Garnero: esse, sim, é o meu cinema!

Roteirista de mão cheia, Nicole Holofcener (já disse que me amarro em mulheres cineastas) faz aqui um recorte na vidinha de seis personagens totalmente reconhecíveis. E, mesmo sendo apenas regular na direção, consegue prender o espectador sem apelar para viradas mirabolantes ou momentos climáticos.

É o típico filme em que "nada acontece", alguém vai dizer. Mas só na superfície. Como quem não quer nada, Nicole nos coloca diante de temas como família, hipocrisia, casamento, solidão, doação e, claro, culpa. Impossível não se identificar.

Destaque também para o elenco. Principalmente a dupla Oliver Platt e Catherine Keener (eternos de coadjuvantes de luxo em Hollywood) e a incrível Rebeca Hall (de Vicky Cristina Barcelona).

Um único porém: a trilha sonora folk pau mole - uma verdadeira obsessão do cinema independente americano.

ENTREVISTA: ALVINHO LANCELLOTTI (FINO COLETIVO)


Também publicada em papel-jornal.

A NOVA CADÊNCIA DO SAMBA

Antídoto contra o som "de raiz", Fino Coletivo é a pedida de hoje na programação de Curitiba

Nos últimos anos, a revalorização do samba de raiz fez surgir uma infinidade de novos entusiastas do gênero. São jovens tão afeitos à tradição que, não contentes em emular canções de outros carnavais, adotam até um figurino de época, com direito a roupinhas de fazenda, cordões de ouro e chapéus-panamá.

Mas a música brasileira sempre nos oferece antídotos contra a mesmice. É o caso do grupo Fino Coletivo, formado por cariocas e alagoanos, que toca hoje em Curitiba, no Music Hall. Com dois discos no currículo, o sexteto abraça o samba e o atualiza, adicionando elementos de funk, reggae, rock e hip hop.

"Como o samba andou meio esquecido no Rio por um tempo, foi importante esse movimento de resgate ter aparecido. Só que eu, particularmente, não quero reproduzir o que já foi feito. É uma coisa meio boba", afirma o vocalista Alvinho Lancellotti, em entrevista à reportagem da FOLHA.

Filho do compositor de sambas Ivor Lancellotti (e irmão do músico Domenico), ele reconhece que tinha tudo para integrar a turma "de raiz". "Cresci vendo o João Nogueira cantar na minha frente. Mas também sou fã de Michael Jackson, pô! Acho estranho um cara de 27, 30 anos usando chapéu na rua", diz.

Outro integrante da banda com DNA musical é o tecladista Donatinho, herdeiro do genial João Donato. Segundo Alvinho, sua entrada na banda, após o primeiro álbum (de 2007), foi fundamental para definir a sonoridade atual do Fino Coletivo - caracterizada por timbres personalíssimos.

Copacabana, o registro do ano passado, também é marcado por um forte apelo pop. Além das composições leves e diretas, o material traz uma certa limpeza técnica. "Gravamos tudo no estúdio novo do baixista. As vozes estão melhores, o som chega mais no ouvinte", explica o vocalista.

Essa lapidação chamou a atenção do selo Oi Música, mantido por uma operadora de telefonia móvel. Responsável pelo lançamento do último disco, a companhia vende downloads das faixas para celular e divulga o Fino Coletivo nas redes sociais da internet, por meio de sua assessoria de imprensa.

"Essa parceria caiu do céu. Estávamos com o disco quase pronto e não sabíamos o que fazer com ele. As próprias gravadoras não sabem mais", conta o músico, que garante não receber interferência artística da companhia. "É tão difícil viver de música no Brasil, que qualquer oportunidade dessas é válida".

PS - Shows de abertura com os locais Supercolor e Locomotiva Duben.

CARAVANA DA CORAGEM


Nunca tive muito saco para atores-mirins. Mas essa menina de Bravura Indômita, sozinha, já valeria a sessão. Hailee Steinfeld é o nome da figurinha, que mal estreou no cinema e concorre ao Oscar de coadjuvante. Olho nela.

Sobre o filme em si, trata-se de mais um western dos Coen. Digo "mais um" porque, convenhamos, o ótimo Onde os Fracos Não Têm Vez é quase um bang-bang, né? A diferença é que, aqui, a história se passa mesmo no Velho Oeste. Com direito a visual caprichado e direção de arte que aproxima o espectador da época.

O roteiro, mais baseado no livro do que no longa de 1969, segue a linha "fábula moral", tão comum na obra dos irmãos cineastas. No caso, uma fábula sobre a coragem. Coragem para fazer o que deve ser feito, para levar até o fim o que se começou. O que torna este Bravura um dos trabalhos mais "emocionais" dos irmãos cineastas.

E também o filme mais convencional e acessível deles, narrativamente falando. Não à toa, já faturou US$ 90 milhões só nos EUA (um feito e tanto para um faroeste em pleno 2011). Isso não significa, pelamordedeus, que é ruim. Pelo contrário. Só não rivaliza com classicões como Lebowski, Onde os Fracos, O Homem que Não Estava Lá, etc.

PS - O Jeff Bridges está apenas correto. Não justifica a segunda indicação seguida.

PA-PANAMERICANO!


Matéria que produzi para a Fôia no início do verão. A ilustra é do Marco Jacobsen.

PA-PANAMERICANO!

Conheça as músicas mais tocadas (ou massacradas) nos balneários paranaenses

Todos os anos, uma das principais reclamações dos veranistas é o som alto. Tanto que o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) destacou três equipes só para fiscalizar os bares e restaurantes do litoral. Segundo o órgão, mais de dez comerciantes foram multados desde o início oficial da temporada, no fim de dezembro.

No entanto, é praticamente impossível controlar o barulho vindo dos carros equipados com autofalantes no estilo "panelão". Para os donos desses mini trios elétricos, não basta gostar de uma música. É preciso massacrá-la no último volume para todo mundo ouvir. E dá-lhe axé, pagode, sertanejo universtário, tecno e funk - porque a trilha sonora da praia nunca é suave.

Mas antes de chamar a polícia para silenciar seu vizinho, talvez seja interessante conhecer os sucessos da vez nos balneários paranaenses. Para se inteirar do assunto, a reportagem da FOLHA conversou com DJs, programadores de rádio e promotores de eventos que estão trabalhando na praia. O resultado da enquete é algo próximo de um hit parade do litoral.

No topo da lista, uma unanimidade: "Pa-Panamericano". Pelo menos é assim que 99,9% dos consultados se referem à faixa "We Speak Americano", da dupla australiana Yolanda Be Cool. Popularizada no Brasil pelo programa Pânico na TV, a música é uma releitura eletrônica - e grudentíssima - de um clássico latino de 1956, gravado originalmente por Renato Carosone.

O vice-campeonato ficou com uma típica canção popular de duplo sentido. Composta pelos pagodeiros Thiaguinho (do supergrupo Exaltasamba) e Rodriguinho (ex-Travessos), "Fugidinha" ganhou as ruas na voz do neosertanejo Michael Teló e foi parar até no especial de tevê de Roberto Carlos. Em pleno horário nobre da Globo, o Rei mandou uma versão mais tranquila do hit, acompanhado do já citado Exaltasamba.

Quem também subiu no pódio foi "Stereolove", também conhecida como "o poperô da sanfoninha". Trata-se de uma faixa do produtor romeno Edward Maya, cantada pela russa Vika Jigulina. Estourada no leste europeu desde 2009, a música pegou no Brasil em 2010 e já se firma como um dos grandes hits deste verão. Está feita a (improvável) conexão Bucareste-Matinhos.

O ranking prossegue com outra pérola popular brasileira - porém sem o menor vestígio de duplo sentido. "Saia e Bicicletinha", da banda mineira Kaçamba, é um axé com som de sirene ao fundo e refrão desavergonhado ("Ela sai de saia e bicicletinha / Uma mão vai no guidão e a outra tapa a calcinha"). Ideal para quem gosta de seguir uma coreografia semierótica.

Menos apelativos, os paulistas do Exaltasamba (olha eles aí de novo!) também estão bombando na praia. Além de fazer sucesso com sua gravação de "Fugidinha", o U2 do pagode ainda emplacou "Tá Vendo Aquela Lua". Na quinta posição, a composição romântica de Thiaguinho (dessa vez em parceria com Pezinho) tem os ingredientes necessários para uma conquista amorosa à beira mar.

A última representante internacional do nosso Top 10 é "The Time (Dirty Bit)", do fenômeno pop Black Eyed Peas. Aqui, o quarteto americano transforma em dance music o clássico dos anos 80 "(I've Had) The Time of My Love". A versão original, tema do filme Dirty Dacing - Ritmo Quente, foi gravada por Bill Medley e venceu o Oscar de canção original em 1987.

Daqui em diante, a lista é quase toda tomada pelo gênero musical hegemônico do estado: o sertanejo universitário. E tome Luan Santana ("Adrenalina"), Guilherme & Santiago ("E daí?") e Fernando & Sorocaba ("Tô Passando Mal"). É a trilha sonora dos bailões litorâneos.

O hit parade do verão paranaense 2011 termina, surpreendentemente, com um sucesso da temporada passada. Segundo os entrevistados pela reportagem, "Rebolation", do grupo baiano Parangolé, continua viva na memória do público e deve continuar assim até depois do Carnaval. Agora, sim, pode chamar a polícia.

PS - Depois de que a matéria ficou pronta, outros hits surgiram, ok? Ou seja: não exija rigor dessa lista.

NÃO SOU O PÚBLICO-ALVO


Os três leitores deste blog talvez não se enquadrem no público-alvo de O Discurso do Rei. Nem eu, para falar a real.

Mas senti que o pessoal mais "maduro" (no sentido cronológico mesmo) presente na pré-estreia curtiu bastante. O que reforça o contraponto com A Rede Social, apontado como seu maior rival no Oscar 2011.

Trata-se do típico "filmão inglês" de época. Acadêmico, tecnicamente impecável, com personagens nobres (no caso, o protagonista é o próprio monarca) e referências a Shakespeare. Um prato cheio para quem curte o gênero.

Da minha parte, valeu a pena pelo desempenho de gente grande da dupla Colin Firth e Geoffrey Rush. Principalmente do primeiro, com quem nunca simpatizei muito - até aqui.

Sempre lembrando, como já disse no tuíter, que a Academia é formada, basicamente, por votantes "maduros". Não se espante, portanto, se este aqui passar o rodo nas estatuetas.

ALÔCKA DO BALÉ!


Atenção: Cisne Negro não é sobre o mundo do balé. Ou pelo menos não trata apenas disso, como sugerem os comerciais de tevê. Indicado a seis Oscars, o filme do diretor Darren Aronofsky é um suspense psicológico para adultos, com altas doses de tensão e sensualidade.

A história é centrada na figura de Nina (Natalie Portman), uma bailarina profissional extremamente comprometida com sua companhia. Comprometida até demais. Aos 28 anos, mora com a mãe superprotetora (Barbara Hershey) e se limita a viver entre o teatro e sua casa.

Quando o grupo se prepara para encenar uma nova versão de O Lago dos Cisnes, e a dançarina principal é forçada a se aposentar, ela agarra com unhas e dentes a oportunidade de ganhar o papel principal. Um desafio e tanto, já que a adaptação prevê que a estrela do espetáculo interprete dois personagens - o Cisne Branco e o Negro.

Enquanto encarna o primeiro, Nina é incrível. Afinal, sua personalidade ingênua e frágil combina perfeitamente com a coreografia. A difilcudade surge na hora de dançar as partes do Cisne Negro - perverso, agressivo, lânguido. Instigada pelo autoritário diretor da companhia (Vincent Cassel, o eterno francês escrotão), ela terá de descobrir sua faceta libertária.

Exigida por todos, principalmente por si mesma, a personagem se desestabiliza e inicia uma jornada delirante, marcada por alucinações assustadoras (algumas involuntariamente cômicas, diga-se). A partir daí, fica difícil saber o que é ficção e realidade na trama, que ganha tintas expressionistas e um clima tenso digno dos filmes de Roman Polanski e David Cronenberg.

O problema é que, apesar de seu talento inegável, Aronofsky quase sempre derrapa no superficialismo. Como se apostasse num ponto de vista e o mantivesse firme até a última cena - sem muita reflexão ao longo do processo. Nesse sentido, Cise Negro, mesmo com todo seu rebuscamento, pode ser considerado previsível.

Sobre Natalie Portman, fica a certeza de seu favoritismo ao Oscar de melhor atriz. É verdade que ela passa 90% do tempo com cara de quem comeu e não gostou, mas sua doação ao papel convence até os mais ranzinzas. Se a Academia não resolver premiar Annette Bening por injustiças cometidas em anos anteriores, a estatueta é da Padmé.

PS - Não acho que o Oscar "esnobou" a coadjuvante Mila Kunis. Barbara Hershey está muito melhor.

ENTREVISTA: MR. CATRA


Para "A Outra Folha da Terra"

UM FUNKEIRO NA ALTA RODA

Mr. Catra, ícone do gênero, é a atração de hoje em boate "top" de Curitiba

"Irmão, o funk é o único movimento que nivela todas as classes sociais. Funkeiro é todo mundo que dança, que se expressa com corpo". Quem garante é Wagner Domingues da Costa, o Mr. Catra, um dos maiores ícones do gênero musical surgido nas favelas cariocas. Atração de hoje na Awake, uma das boates preferidas da alta roda curitibana, ele afirma que não faz a menor distinção entre seu público.

"Tem patricinha que rebola mais do que favelada. A única coisa que você não vai ver, mano, é playboy cantando funk em cima do palco", diz, gargalhando, o MC de 42 anos. E não se trata de um discurso simpático para agradar a audiência. Nascido no Morro do Borel, mas criado numa casa de ricos, onde a mãe era empregada, ele é realmente um expert no trânsito entre os dois mundos.

Conhecido por seu estilo de vida excêntrico, digno de suas letras "cabeludas", Catra cumpre uma exaustiva maratona mensal de shows para sustentar a família numerosa. É o preço que paga por ter 20 filhos, de várias mulheres. A agenda lotada, no entanto, não justifica a duração tão reduzida de suas apresentações (de cerca de uma hora). "As músicas de rap têm entre três e cinco minutos. Então, um show de uma hora é pouco. Já as músicas de funk têm, no máximo, um minuto e meio. Uma hora de funk é muito, irmão!", explica, rindo.

Questionado sobre a última grande ofensiva policial contra o tráfico de drogas no Rio, Catra muda o tom. "Isso é uma babaquice. O modelo das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) não funcionou em outros países e não vai dar certo aqui também", afirma. Para ele, a solução é a liberação geral das drogas. "Tem que liberar e tributar. Assim, o governo ganha dinheiro, paga melhor o policial e todo mundo se sente mais seguro. O Rio tem que ser igual a Amsterdã".

O papo volta a ficar relaxado quando o assunto é o planejamento para este ano. Sem gravar um disco completo desde 2006, o MC prepara nada menos do que seis lançamentos. A ideia é compilar todas as faixas avulsas disponibilizadas na internet e que saíram em coletâneas internacionais nos últimos anos. Em outra frente de trabalho, ele também pretende agenciar novos artistas, como o grupo Havaianas, a cantora e dançarina Mariana Souza e Alandinho, seu filho mais velho.

Mas o projeto mais interessante dá conta do primeiro documentário "oficial" sobre sua trajetória. "Oficial" porque, no ano passado, vazou na web o piloto de um programa de tevê que não vingou, "90 Dias com Catra". Espécie de reality show baseado no cotidiano do funkeiro, o vídeo fez sucesso na rede e acabou motivando a realização de um longa-metragem.

Segundo o MC, a produção do filme será de Paula Lavigne, empresária e ex-mulher de Caetano Veloso. E a direção, do próprio baiano. "O Caetano tem uma visão política e social muito grande", elogia. Se a informação for mesmo quente, vem aí uma das parcerias mais poderosas da cultura pop brasileira.