ENTREVISTA: ITAÉRCIO ROCHA (GARIBALDIS E SACIS)
Pra Fôia. A foto eu peguei por aí, mas é da Anaterra Viana.
FOLIA E RESPONSABILIDADES
Bloco pré-carnavalesco curitibano tem o desafio de administrar o próprio sucesso
Já está virando tradição. Durante os quatro domingos que antecedem o Carnaval, o desfile do bloco Garibaldis e Sacis atrai uma multidão de foliões e curiosos ao centro histórico de Curitiba. Uma movimentação iniciada em 1999, mas que tomou corpo para valer nos últimos três anos. Tanto que, agora, os organizadores da festa admitem ter um desafio pela frente: administrar o próprio sucesso.
"Estamos vivendo uma nova ordem", afirma o artista Itaércio Rocha, também conhecido na cidade por seu trabalho com o grupo Mundaréu. Um dos fundadores do bloco pré-carnavalesco, ele conta que a preparação para a temporada deste ano incluiu uma série de medidas burocráticas. Da transformação dos Garibaldis em "pessoa jurídica" ao estabelecimento de parcerias com órgãos públicos.
Outra providência nesse sentido foi pagar o Ecad (entidade que arrecada e distribui os direitos de obras musicais no Brasil). As duas partes chegaram a um acordo, reduziram custos, e o valor final ficou em cerca de R$ 1.600 para os quatro desfiles. Bem menos dos que os R$ 4 por folião que consta na tabela oficial - e, provavelmente, inviabilizaria a festa.
"Concordo que o compositor deve receber pelas suas canções. Eu mesmo gostaria, um dia, de receber pelas minhas", diz Itaércio, que ainda abre mão dos direitos da próprias marchinhas. Aliás, há quem aponte que o bloco vem tocando cada vez menos os temas autorais e priorizando os clássicos ("Cabeleira do Zezé", "Mamãe Eu Quero", "Maria Sapatão" e afins).
"Não é nada isso. A gente só está inserindo as canções da gente no meio das tradicionais. Do contrário, a festa não emplaca, não dá liga. Carnaval é isso, é criar conexões locais com músicas do mundo inteiro. O negócio é misturar Braguinha, Michael Jackson e (a cantora curitibana) Melina Mulazani", explica.
Em volta do carro de som, também se comenta sobre a seriedade de Itaércio na condução do desfile - como se o comandante do bloco fosse o que menos se divertisse. "Fico em função da plateia. Não estou lá de Ivete", brinca. "A gente almejou o sucesso, trabalhou por ele. Agora temos que resolver tudo isso", completa.
"Tudo isso" significa, entre outras atitudes, conscientizar os foliões sobre questões de segurança, organização e limpeza. E também interromper a farra para fazer agradecimentos, digamos, institucionais (citando órgãos como a Fundação Cultural, Diretran, secretarias do Meio Ambiente e do Turismo, etc.).
Mas essa "nova ordem" não pode prejudicar a espontaneidade da festa? Para Itaércio, os Garibaldis devem se preocupar em preservar dois elementos básicos: a alegria e o caráter comunitário. De resto, ele garante que não tem maiores planos para o futuro. "Meu desejo é que apareçam outros blocos, como já estão aparecendo. E que essa experiência estética, festiva e coletiva continue".
Batizado com esse nome por causa de seu itinerário original - entre o Saccy Bar e a Praça Garibaldi -, os Garibaldis e Sacis já chegaram à metade da temporada 2011. Ainda faltam dois desfiles: neste domingo e no dia 27. E, apesar de a organização pedir contribuições simbólicas (para pagar o Ecad), o evento é livre para quem quiser aparecer.
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Isso aí, tem que crescer mesmo. Já que os domingos ficaram com as marchinhas, o axé, o maracatu dos Garibaldis e Sacis, os sábados poderiam ficar com as baterias das escolas de samba - mesmo com toda a indiferença, resistência e até preconceito da sociedade curitibana, uma gente muito aguerrida produz samba de qualidade nas escolas.
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