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ELE VOLTOU PARA CONFUNDIR


Não espere ver informações biográficas em Alô, Alô, Terezinha!, que estreia sexta em Curitiba. Até porque o Google está aí para isso, certo?

Cru e urgente, o documentário de Nelson Hoineff sequer resvala na trajetória de Chacrinha. O foco é o programa de tevê, tratado como um microuniverso composto por três eixos: os artistas, os calouros e as chacretes.

As dançarinas, aliás, roubam a cena. Não à toa, vão ganhar uma série só delas, a ser exibida no Canal Brasil.

Há quem diga que o filme é sensacionalista, por explorar a imagem, um tanto miserável, de ex-calouros e chacretes. Não vejo dessa forma.

Hoineff quis capturar a essência do Velho Guerreiro, e para isso se apropriou de alguns de seus expedientes (o deboche, a incorreção política, a crueldade). Mais do que isso: buscou colocar na tela a visão que o apresentador tinha do Brasil. Um país plural, zoado, contraditório.

Um recorte, portanto. E, nesse sentido, Alô, Alô, Terezinha! cumpre seus objetivos. Inclusive o de confundir.

"AS FORÇAS DA ACOMODAÇÃO SÃO SEMPRE MAIORES"


Fiz uma matéria de página inteira sobre Alô, Alô, Terezinha!, documentário do Nelson Hoineff que investiga o universo do Chacrinha. Vai sair no domingo, na Outra Folha.

Foi a terceira vez que entrevistei o Hoineff, criador do Documento Especial e um dos meus gurus na profissão. Para variar, o papo acabou descambando para o estado das coisas na comunicação em geral. Segue um trecho (sobre o filme, falo já, já).

De onde vem a inovação que o Chacrinha colocou no ar? Era algo intuitivo?
Cem por cento intuitivo. Porque ele não tinha uma formação teórica. Naquela época, diga-se de passagem, ninguém tinha. A televisão era vista como uma coisa de segundo time, e até hoje continua assim. A televisão ainda se comporta como uma débil mental em relação às outras formas de expressão.

Desde que o conceito de correção política apareceu e se consolidou, a sensação é de que há um processo de "higienização", de "sanitarismo" nos meios de comunicação em geral. Você concorda?
Não há a menor dúvida disso. Só não acho que isso começou agora, sempre aconteceu. Felizmente, existem espasmos bem-sucedidos de renovação, tentativas de ir em direção contrária. Casos como o do Chacrinha, do Paulo Francis e do próprio Documento Especial. Mas esse processo de pasteurização é sempre mais forte, e vai ganhando cada vez mais adeptos. No fim das contas, a maior vítima é o espectador.

A sociedade quer esse padrão?
A sociedade não quer, ela é levada a isso. Porque esse padrão é apresentado como a única opção. O cardápio oferecido é muito estreito, porque a visão de quem faz é estreita. As forças da acomodação são sempre maiores. O cara não quer perder o emprego, não quer pensar. Esse projeto de uma tevê entorpecedora, generalista, que nivela tudo pelo gosto médio é realmente vencedor. E o que me encanta no Chacrinha é que ele pode ter perdido a guerra, mas ganhou algumas batalhas radicalizando na incorreção.

"BARRADO POR UM YUPPIE"


Se fosse hoje, Chacrinha não passaria pela portaria de qualquer rede de televisão. Ele seria barrado por um yuppie de 17 anos.

Ele era diferente, melhor, e a televisão sempre apostou na pasteurização. Chacrinha era muito explícito e conseguiu o milagre de ficar na Globo.


Nelson Hoineff, diretor do documentário Alô, Alô, Terezinha!, em entrevista ao blog do Daniel Castro.