
Senna, o documentário, já ganhou pontos comigo pelo trailer maneiro e por ser uma produção internacional - o que garante, teoricamente, uma certa isenção ao projeto. Imagina se fosse da Globo Filmes?
Claro que o personagem é tratado com extrema reverência (e a Globo se faz presente o tempo todo, seja nos depoimentos do Reginaldo Leme ou nas narrações do Galvão). Mas, nas entrelinhas, percebe-se também o lado, digamos, "obscuro" do piloto - um sujeito meio esquisitão, dono de uma fé cega e refém das metas que traçou para si.
O que mais me tocou, no entanto, foi a percepção de que Senna é o herói solitário de um período em que o Brasil estava numa merda sem tamanho. Seu auge aconteceu entre os governos Sarney e Collor, marcados por planos econômicos desastrados e uma certa frustração com a abertura política. Como se não bastasse, nem a seleção de futebol, numa de suas piores fases, consolava o povão.
"Ele é a única coisa boa do Brasil, né?", diz uma anônima qualquer, em uma imagem de arquivo. Mais emblemático, impossível.
De resto, trata-se de um filme inteiramente construído com material de gaveta e pontuado por "offs didáticos" de especialistas em automobilismo. Há, ainda, uma espécie de subtrama dedicada à rivalidade com o francês Alain Prost (digna de uma história de ficção). E antes que alguém pergunte: Xuxa e Galisteu dão as caras, sim.
PS - Ainda quero ver um documentário sobre o bad boy Piquet.