DÁ NO QUE DÁ
Missão do último plantão: produzir uma matéria sobre o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito.
Poderia ter apenas "penteado" um release, como se diz. Mas resolvi ir atrás dos organizadores da mobilização em Curitiba. Eram três (Roberto, André e Cristiane).
Dois deles estavam com os celulares desligados. E o outro queria me passar para um ex-governador que representa uma associação nacional de seguradoras, apoiadora do evento. Nem anotei o número.
Quando estava prestes a reduzir o assunto a uma nota, a Cristiane retornou a ligação. Conversávamos sobre a programação do dia quando resolvi investigar sua história pessoal, para saber o motivo de seu engajamento.
A explicação dela começou assim: "No dia 7 de maio, meu filho morreu num acidente de carro causado pelo ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho". Pois é, amigos. Eu não sabia, mas estava falando com a mãe do Rafael Yared.
É que o release só trazia o primeiro nome dos organizadores e o número do telefone. Na correria, não fiz a associação. De qualquer forma, pedi desculpas pela gafe e continuei a conversa como se nada tivesse acontecido (qual o problema, afinal?).
Cristiane percebeu que eu estava interessado nela, na sua vida após a tragédia, e desandou a falar. Contou sobre a empresa da família, o grupo de apoio que montou, a atividade como pastora da igreja Evangelho Eterno (uma dissidência recente do Evangelho Quadrangular)... Também garantiu que não vai sair candidata em 2010.
Sua força, agora, vem do ativismo. Ela tem o assunto na ponta da língua - dados, estatísticas, leis. Vive para falar disso, o tempo todo. Um discurso quase automático. Quem pode julgá-la?
A empresária acredita que leis mais severas e campanhas de conscientização maciças vão reduzir o número de mortes nas ruas e estradas. Não manjo do tema (sequer dirijo!), mas tenho minhas dúvidas.
Só sei que há carros demais por aí. Carros frágeis e rápidos. Quanto maior a quantidade, maior o risco de acidentes. É a lei das probabilidades, certo?
Enquanto isso, a turma continua correndo para comprar. Mesmo sem o imposto reduzido. E ainda tem o fenômeno das motos. Dá no que dá.
É verdade que o caso de Rafael foi uma monstruosidade. Pela velocidade e o grau de bebedeira do ex-deputado fabricado e metido a super-homem. Ainda assim, insisto: o número de desastres é proporcional ao tamanho da frota.
Disso, a imprensa nunca trata. Imagina se vamos perder os anúncios... Para piorar, há veículos que capitalizam em cima da tragédia criando suas próprias campanhas de conscientização. É o marketing social travestido de jornalismo cívico.
Taí o tipo de morte mais estúpida que existe.
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