Mostrando postagens com marcador erasmo carlos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador erasmo carlos. Mostrar todas as postagens

COM O CORPO TODO


Erasmo, não apenas vice-líder da "guarda" de Roberto mas seu parceiro em todas as composições, nunca pareceu atraído sinceramente por nada que não fosse do mundo do rock, e tanto o despojamento do seu canto quanto a energia sexual de sua presença cênica (alto, pesado, firme, com o ar antiintelectual e anti-sentimental de quem vive os temas essenciais da vida com o corpo todo, nessa combinação de homem pós-industrial e pré-histórico para a qual o rock apontou com tanta insistência em toda parte do mundo) fizeram dele para sempre uma figura de tão imponente inteireza que nem as oscilações do mercado, nem as eventuais ingratidões de novos roqueiros, nem o desprestígio do rock como acontecimento cultural de interesse podem abalar.

Caetano Veloso, em Verdade Tropical.

Mas poderia ser o "abre" da resenha - que eu não vou fazer - do show inesquecível do Tremendão na Virada Cultural de Curitiba.

TREMENDA SURPRESA



Erasmo, 69 anos.

MEUS DISCOS DO ANO


— Lee Fields & The Expressions, My World

— The xx, idem

— N.A.S.A. (foto), The Spirit of Apollo

— Pet Shop Boys, Yes

— K'naan, Troubadour

— Caetano Veloso, Zii e Zie

— Cidadão Instigado, Uhuuu!

— Erasmo Carlos, Rock'n'Roll

— Emicida, Para Quem Já Mordeu Cachorro...

— Os The Darma Lóvers, Simplesmente

E aí?

PARA FECHAR



De acordo com o Tremendão, é a música mais sincera que ele já escreveu. Provavelmente surgiu na fase em que a mulher, Narinha, fez análise.

Está no disco Pelas Esquinas de Ipanema (1978). Mas a Nara Leão a gravou um ano antes, no LP Meus Amigos São um Barato.

E agora eu prometo dar um tempo na erasmomania.

MEU EGO
(Roberto/Erasmo)

Por favor, meu ego
Não dê força ao prego
Que nos põe contra a parede
Pra nos afogar de sede

Chove, chuva
Na sua boca, você não bebe
Há palavras, existem letras
Mas você não forma
As frases loucas que cultiva por aí

Fale pelos cotovelos
E pelos joelhos
Me critique sem razão
Se omitir não vale a pena

Mas não polua minha cultura
Não venha dividir comigo sua auto-censura
Me desencontre, não me prostitua
Senão seremos mais uma carcaça
Em desgraça por aí

"NÃO PENSEI NAS MAZELAS"


Como prometido, segue a íntegra da entrevista com o Erasmo, publicada ontem na FdeL. Na pauta, seu livro de memórias, a biografia do Roberto, machismo na música, gravadoras e os 50 anos de carreira.

Quando surgiu a ideia de escrever o livro?
Tenho o desejo, um sonho mesmo, de escrever livros há muito tempo. Até quis escrever um nos anos 70, chamado "A Banda dos Contentes". Era uma história de ficção, mas não encontrei um final e desisti. Acabou virando o título de um disco (lançado em 1976). Passei esses anos todos procurando uma motivação, até que me toquei de uma coisa. Os músicos, em geral, quando se encontram, estão sempre contando "causos" da vida artística. Todo músico está sempre rindo, em grupo, lembrando dessas histórias. Então resolvi contar uns "causos" que aconteceram comigo também, com meus amigos.

Como foi o processo de escrita? Quanto tempo levou?
Levou dois anos e meio, mais um ano para fazer o fio condutor das histórias. Eu pensava no livro o dia inteiro. Sou assim normalmente, trabalho 24 horas por dia. Seja mentalmente, anotando ou gravando. No banheiro, na cama, acordava de noite com uma ideia na cabeça. Escrevia a mão, que é a única forma que acompanha a rapidez do meu raciocínio. Meu filho vinha uma vez por semana aqui em casa e digitava tudo para ficar bonitinho.

Consultou muito material de arquivo, ou mesmo pessoas próximas?
Consultava minhas reportagens antigas para conferir lugares, nomes. Mas não procurei ninguém, porque prefiro contar do meu jeito. Se eu ligo para uma pessoa, ela diz que não foi bem assim, que não estava chovendo naquele dia. Problema dela. Eu me lembro que estava chovendo no dia e pronto. (ri)

Você se inspirou em algum livro semelhante?
Não, foi tudo da minha cabeça mesmo. E como não sou um leitor, não carreguei influência de ninguém. Fiz mais ou menos como faço na música, usei minha forma de narrar a coisas. Inclusive demorei um pouco para encontrar um estilo. Aliás, um dos prêmios que tive com esse livro foi descobrir essa minha narrativa, vamos dizer assim, literária. Mas, cuidado, não estou usando esse termo de forma pretensiosa.

Houve algum tema que você não quis incluir no livro de jeito nenhum?
Não pensei dessa forma. Só decidi o que colocar. Se não tem as mazelas no livro, é porque não pensei nas mazelas. Eu estava escrevendo uma coisa bem-humorada, descontraída. Não pensei em momentos ruins. Também não entreguei nomes, porque isso não faz parte do meu caráter, nem as mulheres que eu comi. É um livro de boa fé, positivo, que nem eu sou.

Minha Fama de Mau também não traz os bastidores profissionais e comerciais da sua carreira. Há quem pense que é porque você não se envolvia muito com essas questões.
Não traz porque não era a minha intenção. E é claro que eu me envolvia com esses aspectos da minha carreira. Sou um profissional bravo, correto, estradeiro. Mas o importante nos meus contos era a piada do final. Era isso que eu valorizava.

Suas memórias chegam ao mercado numa leva de outros livros e documentários sobre grandes nomes da música brasileira. A que você atribui esse fenômeno recente?
Na verdade, ainda acho muito pouco o que é lançado. Nos EUA, um país que realmente preserva os seus ídolos, há uma infinidade desses produtos. Só de filme sobre cantor, eu já vi um monte. E não é nem documentário, é filme de ficção mesmo.

No Brasil, o biografado, ou a família dele, tem de autorizar o lançamento. Isso não é um entrave?
É que os filhos, como não viveram as coisas, não gostam de ver as mazelas do pai expostas. Ou então crescem o olho no negócio de grana. É complicado.

Autorizaria uma biografia sua?
Não acho legal biografia de um cara vivo. Vou ter prazer de ler a minha biografia quando eu morrer. Quando o cara ainda está vivo, ele só quer que coloquem depoimentos que falem bem dele.

Você leu Roberto Carlos em Detalhes, a biografia "proibida" do Roberto?
Não li. Nem essa, nem as outras que falam de mim. Não costumo ler livros. E como estava escrevendo o meu, não queria receber influência.

O que achou da proibição de Roberto Carlos em Detalhes?
Não achei nada, porque eu não participei do processo. Não me meto nas coisas alheias. Se o Roberto proibiu, algum motivo ele teve. Quem sabe o motivo? Só ele.

Como nas suas músicas, o livro trata muito das mulheres. Você, que já escreveu tantas odes à figura feminina, vê algum tipo de desrespeito nas letras de funk, axé, sertanejo universitário e outros gêneros populares de hoje?
Machismo em música sempre existiu. O rock, inclusive, é machista para caramba. O samba também. Tudo é muito machista. Uma vez ou outra é que aparece uma ode à mulher. O Alcides (seu assistente pessoal há mais de 20 anos) está até lembrando aqui da Amélia, do Ataulfo alves (em parceria com Mário Lago). As mulheres hoje se sentem elogiadas ouvindo essa música, mas o cara está acabando com a mulher!

Será que o tom mudou? Está mais explícito?
No funk, por exemplo, eu acho exagerado. Mas enquanto tiver uma mulher dançando funk, é porque elas gostam de ser chamadas de cachorras. Quando elas sumirem das pistas, os caras vão dizer: "Pô, vamos falar bem delas então".

Você e seus filhos têm uma gravadora (Coqueiro Verde Records). Como estão lidando com esse momento de transição na indústria da música?
Como todo mundo. Sem saber o futuro, o que vai prevalecer. Atirando para todos os lados, para ver se alguma coisa cola. Mas estamos entrando de cara nas novas mídias, que estão cada vez mais presentes no nosso processo de divulgação.

Quais são seus planos para 2010, quando você completa 50 anos de carreira?
Eu não costumo pensar assim. Na minha vida as coisas vão acontecendo no momento certo. O livro, por exemplo, está saindo agora porque atrasou. Calhou de sair junto com o disco, não foi nada premedidato. Quantos aos 50 anos, não vou fazer nada. Quem quiser que faça para mim. O Roberto Carlos também não fez. O chocolate e o banco fizeram para ele aquelas festas (Erasmo se refere às grandes empresas que patrocinaram os shows comemorativos). Se um chocolate, um açúcar quiserem fazer para mim, eu participarei.

TREMENDA CONVERSA


Entrevistei ontem o Erasmo, que acabou de lançar um livro de memórias bem simpático. Foi o meu terceiro papo com o Tremendão, e o melhor de todos. Falamos sobre a nova safra de biografias e documentários musicais, internet, gurus, gafes e, é claro, mulheres.

Perguntei se ele, que já escreveu tantas odes à figura feminina, via algum tipo de desrespeito em certas letras de funk, axé, sertanejo universitário e outros gêneros populares. Ainda não transcrevi a conversa (de cerca de 40 minutos), mas a resposta foi mais ou menos a seguinte:

"Olha, bicho. Música machista sempre existiu. O rock tem várias letras machistas. O Alcides (assistente pessoal dele há anos) tá até me lembrando aqui da 'Amélia'. E no caso do funk, enquanto tiver uma garota dançando na pista, é porque elas estão gostando".

Depois que a matéria sair, publico a íntegra aqui.

DESPEDIDA MADURA



Aos 68 anos, o Erasmo ainda tem a manha de gravar um dos melhores discos do ano. Minha preferida desse trabalho, "Chuva Ácida", é uma espécie de "canção madura de despedida". A letra é uma parceria com o Nelson Motta, mas aqui ele aparece dando um trato na melodia com o produtor Liminha.

Ouça inteira aqui