COINCIDÊNCIA OU NÃO


No Natal do ano passado, ganhei das minhas filhas (ou melhor, da mãe delas) o premiadíssimo O Filho Eterno, do Cristovão Tezza. Fui adiando a leitura, dando prioridade para outros livros, e só comecei há poucos dias. Mas como é bom, hein? Que ritmo! Passei da metade e o pique ainda não caiu.

Algumas amigas não gostaram muito. Entendo. O livro fala diretamente para o público masculino, essa parcela das criaturas que só aprende na base da paulada.

Com um desembaraço que deve ter levado anos para vir à tona, Tezza expõe tudo o que pensou e sentiu na luta para aceitar o filho com Síndrome de Down. Mesmo as ideias mais cruéis estão lá. Ainda quero chegar nesse nível de sinceridade.

Coincidência ou não, anteontem o Geneton publicou uma entrevista que complementa a minha leitura. Ele conversou com o francês Jean-Louis Fournier, diretor de tevê e autor de Aonde a Gente Vai, Papai?, em que conta sua experiência com os dois filhos deficientes. Com a mesma franqueza de Tezza, Fournier chega a dizer que "perdeu na loteria genética".

Seguem trechos do papo. A íntegra você lê aqui.

(...) O que é extraordinário é que, quanto a estas crianças, ninguém pergunta por elas. As pessoas ficam incomodadas. Porque a verdade é que não há nada a dizer sobre as crianças deficientes. Não podemos dizer: o que é que elas estão estudando? Fizeram provas? Arranjaram uma namorada?

(...) O fato de não ser parecido com os outros não quer dizer, necessariamente, que você não seja tão bom quanto os outros. As crianças deficientes são um mistério. Não temos o direito de dizer que a vida que elas vivem não é interessante, já que não sabemos.


Quase terminando este post, achei outro texto do Geneton, dessa vez sobre o próprio livro do Tezza. Não sei se ele tem algum interesse especial pelo tema. Talvez seja apenas mais um pai que, como eu, "ganhou na loteria genética" - mas não perde o interesse pelas histórias secretas das pessoas.

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