VI SHOWS: KARINA BUHR, GENTILEZA, VENDO 147 (ESPAÇO CULT, 19/8)


A partir de agora, vou tentar comentar os shows que vejo por aí. A ideia é recuperar a cobertura "pós-evento", quase abandonada pela imprensa cultural de hoje em dia.

Em vez de vender os eventos dos outros, como a maioria dos meus colegas se limita a fazer, pretendo mostrar minhas impressões sobre o que já rolou. Mas, pelamordedeus, não esperem resenhas científicas (com set list, ficha técnica, nomes dos músicos)!

Dito isso, lá vai o primeiro esforço da série batizada de "Vi Shows" em referência ao título bisonho da versão que o Hanoi-Hanoi fez para "Vicious", do Lou Reed. A foto é do Enio Jr.

Costumo dizer que faço parte de uma "gangue de show", com a Fernanda, a Andressa e convidados eventuais. Juntos, já nos divertimos horrores (e tocamos o terror) em vários muquifos desta recatada província. Se bobear, fazemos bagunça até em recital de piano.

No entanto, estávamos separados desde o show do mundo livre s/a, em maio. Por isso, o primeiro programa meia-boca que aparecesse seria uma boa oportunidade para reunir a turma. Resumindo: nenhum de nós é grande fã da Karina Buhr, mas as meninas curtem a banda Gentileza e a noitada no Espaço Cult parecia, para mim, uma ótima forma de fugir do papo furado nos botecos da vida.

Assistimos ao último capítulo de Insensato Coração e pouco antes da meia-noite já estávamos no Largo da Ordem. Fiquei positivamente surpreso com o tamanho amplo do Espaço Cult e, mais ainda, com o início da maratona em horário razoável.

PUNHETAGEM

Até gostei da punhetagem instrumental dos baianos do Vendo 147. Som pesado, clone drum (dois bateristas e um único bumbo), influência de stoner rock... Mas sempre fico com a sensação de que a maioria das novas bandas instrumentais brasileiras tem medo de se arriscar nos vocais. Como se fosse mais fácil não estruturar canções ou escrever letras.

Seja como for, fiquei ouvindo aquilo e imaginando os cinco num flerte com a tradição musical dos trios elétricos de Salvador. Refiro-me aos primórdios do gênero, quando não havia cantores nos grupos que percorriam as ruas da cidade. O resultado seria algo como "Dodô e Osmar from hell" e levaria a banda a outro patamar criativo.

Também foi engraçado ver alguns indies encarando aquilo como um show de metal. Os meninos batiam cabeça discretamente e tiravam sarro das namoradinhas que não estavam curtindo a barulheira. Acho que não tiveram a manha de ver o Slayer no Master Hall (um dos grandes eventos do ano em Curitóba).

OKTOBERFEST

O lugar já estava razoavelmente preenchido quando o (a?) Gentileza entrou em cena. Entre os incontáveis grupos pós-Los Hermanos curitibanos, o time liderado pelo vocalista/violonista Heitor é o único que me agrada. Principalmente no palco, onde costuma fazer um show divertido.

Mesmo não conseguindo memorizar uma música sequer do sexteto, sempre acabo contagiado pela animação da plateia. Me sinto no pavilhão da Oktoberfest em Blumenau, ainda que o povo identifique influências musicais do Leste Europeu no som deles (será?). Mas eu gostaria mesmo é que fossem mais freaks, anárquicos, frankzappianos.

Naquela altura do campeonato, já havia travado contato com vários conhecidos, especialmente gente do Tuíter (Eder, Priscila, Ariana, Enio, Matheus). Todos, como eu, desconfiados do potencial ao vivo da estrela da noite uma prova de que o primeiro disco-solo da Karina Buhr não é uma unanimidade fora do eixo São Paulo-Recife.

RECONCILIAÇÃO

Quando o show principal começou, corri para a frente do palco. Estava louco para ver de perto o Edgard Scandurra, integrante da banda de apoio da pernambucana (com o trompetista Guilherme Guizado e outras figuras que não reconheci).

Um dos heróis da minha adolescência, o guitarrista havia caído no meu conceito nos últimos anos, graças às tretas que deram fim ao Ira!. Como alguém disse por aí, "Se o Nasi é realmente o filho da puta dessa história, ele está enganando a gente muito bem".

O fato é que, logo na primeira música, rolou uma "reconciliação" com o antigo ídolo. O cara estava tão feliz, tão animado, que deu gosto de vê-lo tocar. Juro que fiquei emocionado. E pensar que o Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, também faz parte da banda (infelizmente, não veio dessa vez).

Mas e a Karina? Vestida com um macacão de paetê dourado, a pernambucana já iniciou a apresentação jogada no chão. Era o sinal de que veríamos um espetáculo de rock and roll, e não um sarau universitário. Dito e feito.

Em pouco menos de uma hora, La Buhr (adoro essas expressões antigas!) dançou, pulou, correu, trepou num ferro, se enrolou no microfone, "foi pra galera"... Se cantou direito, não sei. Mas lavou a alma de quem não aguenta mais a fofura das tiês, tulipas e afins.

Resumo da ópera: a moça pegou todo mundo desprevenido, para o bem e para o mal. Alguns acharam a atuação forçada, fake. Eu prefiro encarar como performática. Para quem já sofreu durante duas horas num teatro, imobilizado, assistindo ao bom-mocismo do Marcelo Jeneci, a zoeira de Karina e sua turma foi simplesmente redentora.

2 comentários:

  1. "A, a, ar, eu sou fã do Omar!" Adorei o texto. Continue pois assim acompanho os shows daqui, entre um mamá e outro. ;) (corrigido!)

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  2. Boa iniciativa sobre comentar o pós-show, Omar.

    A Karina não me surpreendeu tanto assim, achei o show "OK". Mas sem dúvida melhor que o disco chato.

    E "PUNHETAGEM" é mesmo a palavra para o Vendo. Hahaha

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