ENTREVISTA: MV BILL


O rapper lança hoje, em Curitiba, o disco Causa e Efeito (2010). Seguem trechos da entrevista que fiz com ele para A Outra Folha da Terra.

MÚSICA

Esse é, com certeza, o meu melhor momento musical. Ou, talvez, o primeiro momento em que eu consigo equilibrar todas as minhas atividades. Porque a minha música nunca teve tanta atenção. Mas nunca fui frustado pelo fato de os meus discos não terem tanta visibilidade quanto os meus feitos sociais.

(...) Esse disco é um dos mais diversificados e politizados da minha carreira. Mas também tem um certo resgate, uma conexão com uma realidade que eu vivi quando gravei o Traficando Informação (2000). Em algumas músicas, falo do tratamento desdenhoso que a polícia e a clásse média dão para a juventude e os moradores de favela. Um distanciamento que continua igual.

(...) Aprendi a não podar minha música, a não querer controlar quem ela poderia atingir. Percebi que muitas pessoas para quem eu direcionava meu trabalho não estavam nem aí para ele. Queriam curtir outros ritmos, outros tipos de som. Hoje, muita gente que não é pobre e nem favelada gosta da minha música. E isso não me preocupa mais.


GUERRA CONTRA O TRÁFICO

Particularmente, não olho isso com espanto. Quem acompanha o rap desde os anos 90 sabe que o barril de pólvora já estava armado faz tempo. Muitas pessoas viviam da venda de drogas e concentravam um grande poderio bélico. Quando o Estado decidiu desarmá-las, elas reagiram com violência. Só espero que esse não seja o único tentáculo do Estado no Alemão. Que outros exércitos, sociais, sejam enviados para lá também.

(...) A Cidade de Deus foi uma das primeiras comunidades a receber a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Como a gente não tinha referência do que era a UPP, e ninguém explicou direito, não soube se preparar para a invasão.

(...) Não sei quantificar os excessos cometidos por policiais. Mas se aconteceu uma vez, para mim já é decepcionante. Porque a população das comunidades não é contra a polícia, e sim contra a metodologia usada por ela. Em 2007, por exemplo, a Cufa (Central Única das Favelas) fez uma pesquisa para saber o que os moradores da Cidade de Deus achavam do Caveirão. E, surpreendentemente, a maioria aprovou.


MEDO

O momento mais complicado, tenso e triste da minha vida foi em 2002. Eu estava andando pela Cidade de Deus quando um policial me abordou e ficou andando 20 minutos comigo, com um revólver nas minhas costas. Me chamou de macaco, ridicularizou minhas tatuagens. Eu já era uma referência na comunidade, e todas as crianças viram aquilo, os moradores ficavam pedindo para ele me soltar.

(...) Esse policial foi assassinado no ano passado. Parece que era envolvido com mílicias, respondia a dois processos por agressão a civis. Durante muito tempo tive receio de que ele voltasse para me matar.

Um comentário:

  1. Eu admiro o MVBILL ele é um exemplo a ser seguido. É sempre bom saber das histórias e opiniões que ele tem.

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