ENTREVISTA: EMICIDA


Hoje tem show do Emicida em Curitiba. Segue, abaixo, a versão crua (ou quase isso) da entrevista que fiz com ele para o jornal. A matéria "oficial" está aqui.

Por que você preferiu lançar o primeiro trabalho no formato de mixtape, em vez de soltar logo um álbum "oficial"?
É uma mixtape por ser uma parada bem momentânea. Tá certo que ali existem canções de 10 anos, mas são várias fases das minhas rimas. Por isso achei melhor fazer uma mixtape. E tem mais. Na minha cabeça, fazer um album é fazer algo muito maior. Minha carreira vem sendo contruída há anos, com passos pequenos. Lançar uma mixtape pra ter um trabalho físico e chegar a um público maior foi apenas mais um desses passos. Começamos a pensar no álbum oficial agora.

E quando vai sair esse primeiro disco?
Não posso te dar uma data, estamos começando a gravar outra mixtape. Adoro fazer mixtapes. É mais rápido, é um mercado pouco explorado no Brasil. Você não vê muitas circulando por aí e aparecendo nos veículos de comunicação. Quero alimentar todos os tipos de público que se interessam pelo meu trabalho. Conheço os irmãos do rap, mas sei que já não canto apenas pra eles. E as mixtapes servem para que eu esteja mais próximo desses irmãos que consomem rimas adoidado. Um disco vem com uma proposta maior, na minha perspectiva. Mais musical, talvez, com intenção de fazer barulho realmente. Mas ele tá chegando já.

O disco vai ter músicas já conhecidas? Quem está envolvido na produção? Vai ter participações especiais?
Meu disco será totalmente inédito. Não posso te adiantar quem vai estar envolvido, mas sei que quero colocar algumas pessoas em que acredito muito. Tipo Felipe Vassão, Damien Seth, o Nave daqui de Curitiba e uma cantora de Brasília chamada Ellen Oléria. Mas ainda é cedo, tem pouca coisa escrita pra ele. Muita idéia, mas pouca coisa.

Qual o papel das batalhas de MCs no desenvolvimento e divulgação da sua carreira?
Sempre vi as batalhas como um estudo, a possibilidadede de crescer junto com alguém que faz a mesma coisa que você. Por isso me envolvi. A tiração de onda e o resto vêm também, mas pra mim o negócio é o estudo. Sou um improvisador, gosto de minha arte acima de tudo. Onde eu acreditar que ela é respeitada no máximo grau, irei expor ela. Você está ali, próximo do público, semanalmente. No meu caso foi assim. Aí me liguei que tinham pessoas nos eventos que não iam ver batalhas. Tinham pessoas que iam ver as minhas batalhas. Achei que era o momento de fazer as minhas coisas e acertei. Me afastei um pouco das batalhas por achar que estava virando um concurso de piadas, em vários casos. Optei por fazer improvisos em meu show e trabalhar minhas músicas daqui pra frente. Mas quem achar que eu tô enferrujado é só marcar. (risos)

Há, no Brasil, um certo preconceito com o chamado "rap comercial". Inclusive, muita gente coloca no mesmo balaio artistas como Lil' Wayne, 50 Cent, Jay-Z, Eminem, etc. (como se fossem todos iguais). O que você pensa disso?
Na verdade eu não vejo assim. Esses nomes que você citou, por exemplo, gosto de todos. Admiro esses caras enquanto artistas, acho que o Jay-Z é o melhor do mundo. Eu, particularmente, odeio divisões. É tudo rap, batida e rima. Uns com auto tune, uns com sampler, outros com sintetizador e banda. Mas é tudo rap. As pessoas adoram separar as coisas dizendo que um presta e o outro, não. Lutam contra isso quando alguém faz o mesmo com elas e ficam de um lado que não acreditam ser o que elas merecem. Em resumo, vagabundo fala de tudo. Fala deles, fala de mim, fala de você e disso aí eu já desencanei porque não muda. Lutamos contra o preconceito há anos e ele tá aí mais forte do que nunca. Às vezes, penso que as pessoas precisam dele pra se esconder atrás de alguma coisa e não resolver os verdadeiros problemas.

Qual a importância do samba na sua formação musical? Pretende se aprofundar, ainda mais, na mistura com o rap?
Cresci escutando muita coisa. Fundo de quintal, Reinaldo, Jorge Aragão, Lecy Brandão, Cartola. Então era impossível isso não refletir na minha música. Você nasce em uma cidade, tem o sotaque de lá. Meu lugar é o samba. O rap chegou um pouco depois, e eu amo rap. Mas, pra mim, a música mais louca que tem é o samba. Jazz é da hora também, mas nada se compara ao samba. Quero me envolver mais nisso. O D2 tem uma parada bem louca nesse sentido, mas quero me envolver mais com a musicalidade dele de uma forma subjetiva, com a essência disso. Sou um MC e quero trazer o que considero positivo pras minhas rimas, mas sem deixar de ser rap. Tendo violão e pandeiro ou não, o samba estará lá.

Conhece bem a cena hip-hop do Paraná e de Curitiba? Destaca algum nome?
Conheço a cena do Brasil todo, graças a Deus. Tem gente pra caramba trabalhando por aqui. Por exemplo, vocês tem aqui o Nave, que produziu coisas muito boas pro Marcelo D2, o Dario, o Laudz. Alguns dos melhores beat makers do Brasil estão aqui. Tem nas rimas o Nel Sentimentum, a Karol Conká, o Bigue. Todos vão se apresentar com a gente na sexta-feira. Vale a pena conhecer, quem ainda não ouviu falar dessa rapaziada. É chegar no baile e gritar "A rua é nóiz" com todo mundo.

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