FALTOU FUNK


Com o cacife de quem comandou o filme mais assistido no mundo em 2009 (A Era do Gelo 3), o brasileiro Carlos Saldanha se viu autorizado a puxar a brasa para a própria sardinha. E desfrutou dessa liberdade muito bem, como se pode conferir em Rio, uma das animações mais bonitas, visualmente falando, já produzidas pelos estúdios americanos.

Em cartaz a partir de hoje, o desenho também é o maior lançamento da história da 20th Century Fox no país. Uma estratégia ousada, que inclui a exibição em mil salas (em cópias tradicionais e 3D) e uma campanha publicitária onipresente. Até a prefeitura carioca entrou no embalo, bancando uma ala inteira da escola de samba Salgueiro dedicada aos personagens.

Rio começa com um balé de pássaros, que rapidamente são caçados por traficantes de animais silvestres. Entre os capturados está o protagonista, Blu, uma arara-azul bebê que ainda não aprendeu a voar. Seu destino é uma cidade gelada dos EUA, onde ele felizmente recebe um tratamento de "gente" por parte de sua dona, Linda.

Sua rotina pacata é interrompida com a chegada de Túlio, um biólogo brasileiro que quer levá-lo ao Rio de Janeiro, para cruzar com a última fêmea da espécie. Acompanhado de Linda, ele chega à cidade em plena movimentação carnavalesca - com direito a dicas das aves "malandras" do pedaço e foliões sambando com pouca roupa no meio da rua.

Logo depois que Blu conhece a arara Jade, o pior acontece. Os dois são sequestrados por contrabandistas e vão parar num barraco de favela, onde centenas de outros pássaros estão engaiolados, prontos para serem vendidos. E o casal que até então não tinha química terá de superar suas diferenças para sobreviver.

O choque cultural, portanto, é o tema central de um filme que apresenta duas visões do Brasil. De um lado, há a paixão (e uma certa nostalgia) de Saldanha, que concebeu e dirigiu o projeto. Do outro, os inevitáveis estereótipos tupiniquins que fazem parte do imaginário dos americanos responsáveis pelo roteiro.

Sendo assim, o Rio de Janeiro romantizado da tela não chega a incomodar os nativos. Pelo contrário. Os cenários são tão caprichados que os adultos até ignoram os clichês, as piadas fraquinhas e o ritmo meio morno de parte da história. O único senão é a constrangedora trilha sonora de Sergio Mendes - uma mistura de Broadway com batucada para gringo ouvir. Faltou mais funk nessa receita (e, pensando bem, de modo geral).

Um comentário:

  1. Sempre achei Sérgio Mendes superestimado. Samba-jazz pasteurizado pra gringo ouvir. Um Tom Jobim de 5a categoria. Nem esbarra na qualidade de caras como Deodato, Airto e outros que foram fazer música brasileira lá fora. (João)

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