ENTREVISTA: EDUARDO DUSSEK


Um dos clássicos da minha infância faz minitemporada em Curitiba nesta semana. Bati um papo com ele para a FdL.

Começando com uma pergunta meio tola. Por que você passou a assinar ''Dussek'' em vez de "Dusek"?

Por dois motivos. Primeiro, porque a pronúncia do meu nome é ''Dussek'' mesmo, ninguém nunca acertou. E depois veio a numerologia. Mas deixa eu contar uma história.

Nos anos 90, minha casa ficou em obras durante seis meses. Foi um inferno, porque o meu escritório também funcionava lá. E o mestre de obras ficava me chamando o tempo todo: ''Seu Duzzzééék!''. Aquilo me irritava de um jeito que você não imagina!

Enquanto isso, minha produtora passava por problemas com o fisco. Paguei tudo e resolvi procurar uma numeróloga para mudar o nome da empresa. Ela perguntou se tinha outro nome relacionado com o meu trabalho que eu poderia mudar, e eu disse que achava ''Dussek'' melhor que ''Dusek''. Ela fez os cálculos e achou maravilhoso!

E essa sua ligação com Curitiba, como surgiu?


Meu ex-sócio é daí. Fui padrinho de casamento dele, padrinho da filha mais velha dele. É como se eu tivesse uma família em Curitiba, onde também fiz muito trabalhos, principalmente em empresas. Cheguei a manter uma casa aí por 15 anos. Primeiro, uma casa mesmo, no Cristo Rei. Depois, um apart hotel na João Gualberto.

Hoje se fala muito sobre a importância de o artista gerenciar a própria carreira. Mas você já faz isso há anos, não?

Sempre trabalhei com bons empresários. Mas também sempre gostei de ser dono do meu nariz. Não gosto de assumir o erro dos outros. E como atuo em várias áreas, preciso ter um escritório para centralizar tudo isso. Na verdade, minha primeira produção é de 1974. Ou seja: tenho bem mais do que os 30 anos de carreira "oficiais" que estou comemorando agora.

Apesar de tantos anos de trajetória, sua discografia não é muito extensa...

Isso é carma! Sou capricorniano, então tudo para mim é mais difícil de fazer. Enquanto o leonino faz três coisas ao mesmo tempo, eu faço uma. E que dá errado. Sou um "inadimplente astral", como canto no início do show. Mas pergunto "quanto custa" e vou à luta.

A que você atribui um certo sumiço da grande mídia nos anos 90, logo depois do boom que a sua carreira teve na década anterior?

Isso é normal para uma pessoa carmática, como eu. Mas sou um carmático esperto. Porque o carmático burro dá murro em ponta de faca. Eu, não. Se não tenho nada a dizer, fico quieto.

O que aconteceu é que tive uma crise criativa muito séria, que começou logo após o fracasso de um disco que lancei no início dos anos 90. Cheguei a renegar tudo que fiz. Achava que faltava uma unidade na minha carreira. As pessoas não sabiam dizer se eu era debochado ou romântico, ator ou compositor. Isso me impediu de evoluir.

Mas a culpa era minha, então tratei de correr atrás de uma resposta para o problema. Essa busca levou 10, 15 anos. Mas como nunca dependi da mídia, não sou um BBB, continuei trabalhando.

E como você encontrou essa "unidade"?

Descobri que a coisa ia além do campo estético. Era pessoal, espiritual. Resolvi ser um cara legal, honesto com si mesmo. E que não se submete ao poder econômico, apesar de adorar dinheiro! Sou assim mesmo, gozador e romântico ao mesmo tempo. Então agora lanço trabalhos diferenciados, de grife, onde coloco a minha personalidade.

Você mencionou o lado espiritual. Envolveu-se com alguma religião?

Várias, todas as que você possa imaginar. Já bati todos os tambores. Hoje em dia sou ligado ao budismo, que eu acho mais moderno, mais avançado. No budismo você não tem obrigação com o externo, você se observa internamente.

Só que eu não virei careta, santinho. Por outro lado, assumi essa prostituição artística que existe no Brasil. A puta tem que agradar o coronel? Então vou ser a melhor puta possível. Mas o coronel tem que ser poderoso!

Tem algum projeto de disco ou DVD para este ano?

Estou preparando três lançamentos. Um DVD, que talvez seja duplo, com os melhores momentos da minha carreira. E dois CDs. Um de marchinhas de Carnaval, porque esse negócio está bombando, e outro só de canções românticas. Porque o público jovem descobriu meu trabalho com a música "Aventura", que entrou na novela Ti-Ti-Ti. Eles nem conhecem meu lado irreverente.

Curte algum artista novo?

Gosto da Vanessa da Mata, do MV Bill. Até de Fiuk eu gosto. Como chama aquela banda que tem nome em inglês?

Restart. Mas eles, e o Fiuk, são considerados lixo pela classe média "pensante". O que pensa disso?

O Brasil tem um problema que me preocupa muito, que é a falta de cultura. E esse preconceito das elites é falta de cultura também. Porque o popular e o erudito andam juntos desde as civilizações antigas.

A discussão não deveria ser por gênero musical, e sim se o artista tem alma ou não. Vamos parar com esse negócio de querer transformar o Brasil na Áustria, de ficar bajulando quem vem de Nova York ou Paris. Paris é uma grande Tijuca, um suburbúbio com obras de arte.

Sua atuação no filme Federal foi bastante elogiada. Inclusive pelo ator americano que participou do longa, o Michael Madsen. Isso já se reverteu em novas propostas de trabalho no cinema?

O Michael realmente gostou muito de mim, queria me apresentar para o Tarantino. Disse para eu ficar na casa dele em Los Angeles. Só que eu tenho senso de realidade, né? Quase disse para ele: "Ok, Michael. Mas agora eu vou para casa, porque tem uma loucinha lá para lavar". De qualquer forma, esse trabalho foi mais uma sementinha plantada, mais uma porta aberta. Que venham os convites!

2 comentários:

  1. Muito boa e divertida essa entrevista. :)

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  2. Considero Dussek, ou Duzek, um bom artista. No entanto, acho curioso ele falar de "preconceito das elites" quando em diversos shows, em letra de música e até aqui na entrevista insiste em diminuir um bairro da zona norte do Rio de Janeiro chamado Tijuca. Para aqueles que não sabem, o maior "pecado" dos moradores daquele bairro, típico de trabalhadores e profissionais liberais, talvez seja o de considerar a zona sul um bom lugar para diversão de finais de semana, mas não para criar os filhos e a família (quem viu o filme "Cazuza" talvez entenda o porquê deste estigma da parte praiana mais alegre do Rio de Janeiro). Enfim, o artista Dussek, ou Duzek, embora pareça demonstrar ser livre no julgar, às vezes demonstra um preconceito provinciano na forma menos elaborada com a qual se manifesta. Talvez ele conserve alguma mágoa pueril por ter já sido barrado nos bailes sempre mais modestos, porém mais autênticos, do lado norte da terra de São Sebastião. Isto é que dá querer frequentar...

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