ENTREVISTA: LETUCE


Aqui vale uma introdução. Uma das atrações do Grito Rock de Curitiba, o Letuce (RJ) é uma "banda de casal" formada pelo multiinstrumentista Lucas Vasconcellos (ex-Binário) e a cantora Letícia Novaes (que ainda ataca de atriz, comediante, modelo).

Juntos, ele escrevem canções que combinam letras românticas e despretensiosas com arranjos que passeiam por vários gêneros (samba, rock, funk, folk, bossa nova, jazz). Mas tudo muito bem diluído - e pop -, como se pode perceber em seus dois registros "oficiais".

Em 2009, lançaram o álbum Plano de Fuga pra Cima dos Outros e de Mim, marcado por faixas como "De Mão Dada", "Ballet da Centopeia" e "Potência" (esta com direito a clipe rolando na MTV). No ano passado, gravaram o EP Couves, com versões para temas de Sade, Des'ree, Raça Negra e Só Pra Contrariar.

Segue um resumo da conversa que tive com os dois.

Você passam a impressão de que não têm pressa de divulgar o trabalho do Letuce, de fazer sucesso. Tanto que ainda não são muito conhecidos fora do Rio. É isso mesmo?

Letícia - É, sim. Porque a música é uma das coisas mais importantes da minha vida, mas não é tudo. Não vivo para lançar discos e ser reconhecida. Que bom que as pessoas gostam da nossa música e a gente pode se apresentar para elas. Mas não vou fazer nada de maneira forçada.

Mas o segundo disco sai este ano...

Letícia - Sim! Inclusive estou fechando com o Lucas os últimos detalhes. Letras que ainda faltam terminar, pedacinhos de música... E a ideia, na verdade um sonho, é lançar também uma tiragem em vinil.

Com raras exceções, os artistas da geração independente atual são muito tímidos, inclusive nos shows. Já o Letuce destoa desse grupo. A Letícia canta "para fora" e tem uma presença de palco segura, bem-humorada. Isso vem da formação teatral?

Letícia - Vem. Mas, além de ser atriz, faço stand up comedy há muitos anos. Estou acostumada a me apresentar para gente bêbada em casa de humor. Então simplesmente não consigo fazer cara de diva, de cool, de misteriosa.

Lucas - Tocamos no Teatro Rival e logo depois do show duas moças fizeram um elogio que define muito bem Letuce. Elas disseram que o nosso show era muito "desmontado". Para algumas pessoas isso pode parecer pejorativo, coisa de hippie. Mas, para mim, não é. É uma prova de que, como a gente planeja pouco as nossas apresentações, a novidade pode aparecer a qualquer momento.

Letícia - Não quero julgar o trabalho dos outros. Mas existe um tipo de timidez meio boba, forçada. Só que a gente percebe quando a coisa é sincera. Mesmo quando a pessoa canta miudinho. Eu mesma fico tímida e nervosa antes de tocar. Mas, chega na hora, alguma coisa desperta em mim e eu vou embora!

A Letícia é da Tijuca e o Lucas veio de Petrópolis. Isso talvez explique o desembaraço e o despojamento da banda, em contraponto à postura cool de outros artistas cariocas. Vocês acreditam que tiveram uma formação diferente de quem cresceu na Zona Sul?

Letícia - Inspiração não é só música, é também o ambiente em que você vive. No meu colégio, na Tijuca, todos os meus amigos só ouviam pagode e funk. Eu já gostava de rock, mas era impossível não prestar atenção nessas coisas, que acabam ficando na nossa memória afetiva. Quem consegue se livrar do preconceito vai descobrir melodias e letras lindas no meio das músicas de pagode, sertanejo, etc.

Esses dias mesmo estava falando com o Lucas sobre o Luan Santana. Não me afeiçoei a "Meteoro", mas tem uma outra letra dele que eu adoro. Uma que diz: "Você deixou suas digitais em mim". Acho isso lindo! Pena que ainda tem muita gente que não se permite ter esse tipo momento. Seja porque tem medo de parecer esquisito, seja porque o tópico do dia do Twitter não é esse.

Todas as letras do Letuce são sobre amor, relacionamentos. Vocês conseguem definir qual a abordagem que fazem desses temas?

Letícia - Tem uma música do U2, "One", que eu sempre choro quando ouço. É aquela que diz: "Love is a Temple". Para mim, o amor é um templo mesmo. O amor me salvou. Antes de conhecer o Lucas eu era até meio mal-humorada. Mas ele veio e foi um presente na minha vida. Então eu acho que a minha forma de agradecer ao mundo por esse presente é escrever canções de amor. Mas sem pretensão, sem reposta para nada, sem querer apontar o que é certo. Não existe isso de "um nasceu para o outro". Cada um deu sorte de encontrar o outro, e de ser amado pelo outro.

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