À PROVA DE CÍNICOS


Ganhei vários presentes de aniversário ontem. E o último foi Juventude, que passou à noite no Canal Brasil.

Trata-se de mais uma produção pequena, barata e deliciosamente imperfeita do Domingos Oliveira. O tema, desta vez, é a velhice, na visão de três amigos que se conhecem há 55 anos.

Nada mais adequado para a data, portanto. E com aquele toque sentimental que só o Domingos sabe dar sem soar piegas (ou muito piegas). Um filme à prova de cínicos, eu diria. Vai reprisar no sábado, às 23h, e no domingo, às 18h30.

A ANTI-LADY GAGA


Taí o meu disco preferido de 2010, pelo menos até agora: The ArchAndroid (Suites II and III), da Janelle Monáe.

Neste álbum conceitual, a cantora de 24 anos liga o passado e o presente da música negra americana à base de muito Prince, Michael Jackson, James Brown, Stevie Wonder, Outkast...

E, por cima de tudo isso, há um molho psicodélico, futurista e performático. O que faz de Janelle uma espécie de Lady Gaga com pretensões mais artísticas (ou uma anti-Lady Gaga).

Se você curte todas essas referências que eu citei, baixe já!



PS - Eu gosto da Lady Gaga, tá?

IRREVERSÍVEL


Só há uma solução. Examinar pessoalmente o castelo, deduzir quais são seus pontos fracos e traçar um plano para escapar sozinho.

Mas o pensamento sozinho de nada adianta, porque é o pensamento que teve os pés e mãos atados pela hipnose do carcereiro; pelo hábito, preguiça, "formas de se ver", etc.

É necessário agir. Um homem pode mudar seus hábitos mentais mudando sua maneira de viver; às vezes um só ato pode mudar completamente toda a sua mentalidade.

(...) O importante é que se sinta que um ato de vontade é irreversível.


Colin Wilson, em O Outsider.

ASSIM MESMO



Não vou mentir. Ouvi esse clássico do Monsueto pela primeira vez nos anos 90, na interpretação do Virna Lisi (grande banda, hein?).



Em seguida, conheci a versão que o Caetano gravou no Araçá Azul. Mas o fato é que, até hoje, vira e mexe eu me pego com essa música na cabeça. Coisas da vida, como diria o Vonnegut...

APALPADELAS DE GRUPO


Na década de 60, os EUA viram o crescimento de uma quantidade de cultos de terapia de grupo, que introduziram nos seus procedimentos vários rituais de toque corporal.

Esssas "apalpadelas de grupo", como eram chamadas, revelaram a necessidade subjacente de contato corporal e, ao mesmo tempo, refletiram as poderosas restrições impostas a isso na comunidade como um todo.

Mas, apesar do grande interesse que despertou, o movimento agora parece ter perdido o seu momento e a sociedade ocidental conservou como um todo a sua tendência geral à privacidade corporal e ao tabu de contato.


Extraído da obra de Desmond Morris.

CURTO E FINO


Mais um Philip Roth foi para a fita. Ganhei A Humilhação no Dia dos Pais e matei praticamente de uma vez só. Pudera: o livro é curtíssimo, como os outros trabalhos recentes dele.

Aliás, tenho lido por aí algumas críticas negativas sobre essa fase vapt-vupt do escritor - e sua suposta superficialidade. Não sou da turma dos "eruditos" da literatura para fazer uma análise embasada, mas tenho a impressão de que o buraco é bem mais embaixo.

Para mim, o Roth, apesar dos 77 anos, apenas compreendeu que estes são tempos de mensagens urgentes, impactantes, concisas. Experimentou um formato mais econômico, sem perder a finesse, e acabou conquistando uma penca de novos leitores (como eu, ainda um neófito na obra dele).

"Fica a dica", portanto. E o trecho, que é de praxe...

(...) Por causa da dor na coluna, na hora de trepar Axler não podia se deitar em cima de Pegeen, e nem mesmo ficar de lado; assim, ele se punha em décubito dorsal enquanto ela montava nele, apoiando-se com os joelhos e as mãos para não jogar seu peso sobre o pélvis dele.

De início, Pegeen ficava totalmente sem know-how nessa posição, e Axler era obrigado a guiá-la com as duas mãos, indicando-lhe o caminho. "Eu não sei o que fazer", disse ela, tímida. "Você está montada num cavalo", ele respondeu. "Vá em frente." Quando Axler enfiou o polegar no cu de Pegeen, ela suspirou de prazer e cochichou: "Ninguém nunca enfiou nada aí dentro" - "Improvável", ele cochichou em resposta.

UMA QUESTÃO DE ACESSO


Todo mundo brincando de ser alguma coisa na internet. Mas isso é ruim?

A imagem eu peguei daqui.

THE MIDNIGHT SPECIAL (6) - THE BROTHERS JOHNSON



The Brothers Johnson, "Stomp!"
Produção do Quincy Jones. Co-escrito pelo Rod Temperton. E o Michael Jackson ainda fez backings em outra faixa desse disco. Não tem como ser ruim...

A ESPERANÇA BRANCA DA VEZ


Vocês já devem ter percebido que o rrrrrróque contemporâneo não me emociona muito (exatamente o contrário do que acontece com a música negra). Ainda assim, sempre aparece uma coisinha para incluir na lista de melhores da temporada. Em 2009, por exemplo, foi The xx.

Um ano depois, eis que surge a minha esperança branca da vez: Tame Impala, banda australiana altamente lisérgica. Seu disco de estreia, como bem definiu o Guga, é uma espécie de "enciclopédia psicodélica", com influências de várias vertentes do som chapado. Do garagismo ao shoegaze, do stoner ao trip-hop.

Carimbos à parte, o que importa é o frescor das canções, que passam longe da melancolia e/ou afetação tão comum na produção atual. Porém, e sempre há um porém, "este ainda não é o meu álbum de 2010" (como diria o grande filósofo Álvaro Garnero). Mas disso eu falo na semana que vem.

Por hora, fiquem com o link para baixar as 11 faixas de Innerspeaker - e um aperitivo antes de se aventurar.

SOBRE O PRESENTE


E perguntei a mim mesmo sobre o presente: o quanto era amplo, o quanto era profundo e o quanto dele me pertencia.

Kurt Vonnegut, em Matadouro 5.

SAÍ DA LUMEN



E criei minha própria emissora. Ouça aqui.

PRESENÇA SIMBÓLICA


Aos 89 anos, Dona Ivone Lara é mais uma presença simbólica no palco do que qualquer outra coisa. Fica paradinha, numa cadeira estilo Painho, soltando uns "lalaiás" aqui e ali. Parece a Vovó Zilda, da Família Dinossauro.

Mas o show no Guairão foi maneiro do mesmo jeito. Pela força de vontade dela, pelo conjunto afiado, pelo repertório... Fico no aguardo da próxima atração do projeto Quadra Cultural: Odair José.

APENAS COMEÇAMOS



Registro histórico da TV Record: Stevie Wonder cantando "We've Only Just Begun", no Brasil, em 1971. Abaixo, a versão clássica - e fantástica - com os Carpenters.



De quebra, um cover do saudoso Grant Lee Buffalo. Aliás, esse disco de releituras dos Carpenters com bandas dos anos 90 é um dos meus preferidos de todos os tempos.

O QUE É A REALIDADE?


Um filme de ação-cabeça que se passa entre camadas de sonhos. Por hora, é só o que consigo dizer sobre A Origem, que estreia amanhã no Brasil.

Devo ter assimilado só uns 60% da história. Foi o suficiente para sair do cinema doido para ver de novo. E me perguntando: o que é a realidade?

Outro dia tento escrever mais sobre esse "Matrix dos anos 10". De qualquer forma, está recomendadíssimo. Nem que seja só para sair da sessão comentando (algo raro hoje em dia).

PS: E o DiCaprio, hein? Segundo acerto da temporada!