ZII E ZIE


Texto que escrevi para A Outra Folha da Terra em abril.
A ilustração é do Marco Jacobsen.

Cê, de 2006, marcou uma espécie de trégua entre Caetano Veloso e parte da minha geração, aquela mais afeita ao rock dito alternativo. De instrumentação básica, o disco flertava com sons do underground e trazia um compositor irônico e agressivo, recém-saído de um casamento de anos.

Com o novíssimo Zii e Zie ("Tios e tias", em italiano), Caetano busca ir além na receita. O esquema baixo-guitarra-bateria-teclados-eventuais agora serve para perverter canções escritas ao violão, como sambas. Uma espécie de leitura pós-punk, ou art-punk, do gênero tipicamente brasileiro. Aliás, o subtítulo do álbum é certeiro: Transambas.

Mas a crítica profissional - obrigada a ouvir, refletir e escrever de um dia para o outro - tem dito que Zii e Zie é só uma continuação chata do trabalho anterior. Eu já diria que se trata da maturação de um processo.

Porque seria quase impossível repetir a energia e o frescor de Cê, disco que registra uma fase totalmente nova na vida do artista. Tanto pela solteirice aos 60 anos quanto pelo encontro com uma banda de jovens músicos, amigos de seu filho Moreno.

Entre um disco e outro, vieram uma turnê, um fatídico registro ao vivo e o projeto Obra em Progresso - uma série de shows em que Caetano testava músicas inéditas para depois postá-las em um blog e no YouTube. Mas, acima de tudo, veio a ressaca da separação.

Cê foi a festa, o porre, o período confuso imediatamente posterior a um rompimento. Zii e Zie é o cair em si, a descoberta da solidão, a necessidade de seguir em frente e explorar outros assuntos. Tudo isso embalado por uma das sonoridades mais concisas que se ouviu por estas bandas nos últimos tempos. Amadurecer, acreditem, ainda vale a pena.

Um comentário:

  1. adorei a crítica!
    até parece que vc conhecesse música hen?
    rs
    brincadeirinha...
    parabens!

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