MENINAS, EU VI


Consegui escrever um texto "isento" sobre o filme do Justin Bieber. Para a Folha, claro.

"Você não gosta de mim, mas sua filha gosta". Taí um verso adequado para ilustrar a ascensão relâmpago do astro teen Justin Bieber. Motivo de piada entre os mais crescidinhos, o garoto de 16 anos simplesmente não precisa da aprovação do público dito inteligente. Sua base de fãs é tão grande (e fiel), que ele pode até lançar um longa-metragem para o cinema e, ainda assim, fazer sucesso.

E é justamente essa a mais recente cartada de sua carreira (cujo prazo de validade ainda é uma incógnita). Em cartaz a partir de amanhã no Brasil, Justin Bieber – Never Say Never é um improvável documentário sobre seu histórico artístico de apenas dois anos – e um único disco de estúdio. Mas, por incrível que pareça, o filme não é uma bomba completa. Ao contrário, pode render um programa divertido em família.

Dirigido por Jon Chu (um especialista em vídeos de dança), o longa mescla números musicais, registros pessoais do menino e bastidores de sua turnê mundial. O ponto de partida é a contagem regressiva para o maior show da vidinha dele, no "templo" do showbiz americano, o Madison Square Garden. Faltando dez dias para a apresentação, agentes, assessores e parentes recontam a trajetória do pirralho.

Filho de pais adolescentes, que logo se separaram, Bieber foi criado numa cidade pequena no interior do Canadá. Cercado por músicos, amigos de sua mãe, teve acesso a instrumentos desde cedo, e aprendeu a tocar vários deles sozinho. Não demorou muito e começou a participar de concursos de talentos, interpretando canções dos mais variados gêneros com uma qualidade vocal indiscutível.

Mas foi graças a internet que seu conto de fadas realmente teve início. Para mostrar os dotes do filho aos parentes de outras cidades, Pattie Bieber passou a registrar suas performances e publicá-las no YouTube. Os vídeos chamaram a atenção de um produtor de Atlanta (EUA), que tinha contatos com nomes quentes da indústria como Usher e Jermaine Dupri. O resto é história.

É verdade que o dom natural de Bieber foi soterrado por camadas de superprodução pasteurizada. Nesse sentido, os números musicais (em 3D) de Never Say Never acabam sendo proibitivos para quem não é fã do garoto (ou seja, qualquer um com mais de 12 anos). O filme, no entanto, tem outro trunfo capaz de atrair a atenção dos mais velhos: descreve a anatomia de um fenômeno pop.

Entre uma canção e outra, o espectador acompanha , passo a passo, a construção do ídolo. Um processo árduo, trabalhoso, que incluiu uma maratona de ensaios, gravações, shows, visitas a emissoras de rádio, etc. A prova de que mesmo os artistas fabricados precisam ralar muito para chegar em algum lugar. E não interessa se o "produto" tem somente 16 anos – o que importa é ser profissional acima de tudo.

Tanto que a personalidade de Bieber é irrelevante para o documentário, cujo rol de entrevistas não traz um papo mais profundo com o astro. O que não deixa de ser curioso, pois sua carreira é um reality show em si. Ainda assim, Never Say Never cumpre bem seu papel. Se você se interessa pelo funcionamento do showbiz , e é pai ou mãe de meninas, vá ao cinema sem medo.

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