PA-PANAMERICANO!


Matéria que produzi para a Fôia no início do verão. A ilustra é do Marco Jacobsen.

PA-PANAMERICANO!

Conheça as músicas mais tocadas (ou massacradas) nos balneários paranaenses

Todos os anos, uma das principais reclamações dos veranistas é o som alto. Tanto que o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) destacou três equipes só para fiscalizar os bares e restaurantes do litoral. Segundo o órgão, mais de dez comerciantes foram multados desde o início oficial da temporada, no fim de dezembro.

No entanto, é praticamente impossível controlar o barulho vindo dos carros equipados com autofalantes no estilo "panelão". Para os donos desses mini trios elétricos, não basta gostar de uma música. É preciso massacrá-la no último volume para todo mundo ouvir. E dá-lhe axé, pagode, sertanejo universtário, tecno e funk - porque a trilha sonora da praia nunca é suave.

Mas antes de chamar a polícia para silenciar seu vizinho, talvez seja interessante conhecer os sucessos da vez nos balneários paranaenses. Para se inteirar do assunto, a reportagem da FOLHA conversou com DJs, programadores de rádio e promotores de eventos que estão trabalhando na praia. O resultado da enquete é algo próximo de um hit parade do litoral.

No topo da lista, uma unanimidade: "Pa-Panamericano". Pelo menos é assim que 99,9% dos consultados se referem à faixa "We Speak Americano", da dupla australiana Yolanda Be Cool. Popularizada no Brasil pelo programa Pânico na TV, a música é uma releitura eletrônica - e grudentíssima - de um clássico latino de 1956, gravado originalmente por Renato Carosone.

O vice-campeonato ficou com uma típica canção popular de duplo sentido. Composta pelos pagodeiros Thiaguinho (do supergrupo Exaltasamba) e Rodriguinho (ex-Travessos), "Fugidinha" ganhou as ruas na voz do neosertanejo Michael Teló e foi parar até no especial de tevê de Roberto Carlos. Em pleno horário nobre da Globo, o Rei mandou uma versão mais tranquila do hit, acompanhado do já citado Exaltasamba.

Quem também subiu no pódio foi "Stereolove", também conhecida como "o poperô da sanfoninha". Trata-se de uma faixa do produtor romeno Edward Maya, cantada pela russa Vika Jigulina. Estourada no leste europeu desde 2009, a música pegou no Brasil em 2010 e já se firma como um dos grandes hits deste verão. Está feita a (improvável) conexão Bucareste-Matinhos.

O ranking prossegue com outra pérola popular brasileira - porém sem o menor vestígio de duplo sentido. "Saia e Bicicletinha", da banda mineira Kaçamba, é um axé com som de sirene ao fundo e refrão desavergonhado ("Ela sai de saia e bicicletinha / Uma mão vai no guidão e a outra tapa a calcinha"). Ideal para quem gosta de seguir uma coreografia semierótica.

Menos apelativos, os paulistas do Exaltasamba (olha eles aí de novo!) também estão bombando na praia. Além de fazer sucesso com sua gravação de "Fugidinha", o U2 do pagode ainda emplacou "Tá Vendo Aquela Lua". Na quinta posição, a composição romântica de Thiaguinho (dessa vez em parceria com Pezinho) tem os ingredientes necessários para uma conquista amorosa à beira mar.

A última representante internacional do nosso Top 10 é "The Time (Dirty Bit)", do fenômeno pop Black Eyed Peas. Aqui, o quarteto americano transforma em dance music o clássico dos anos 80 "(I've Had) The Time of My Love". A versão original, tema do filme Dirty Dacing - Ritmo Quente, foi gravada por Bill Medley e venceu o Oscar de canção original em 1987.

Daqui em diante, a lista é quase toda tomada pelo gênero musical hegemônico do estado: o sertanejo universitário. E tome Luan Santana ("Adrenalina"), Guilherme & Santiago ("E daí?") e Fernando & Sorocaba ("Tô Passando Mal"). É a trilha sonora dos bailões litorâneos.

O hit parade do verão paranaense 2011 termina, surpreendentemente, com um sucesso da temporada passada. Segundo os entrevistados pela reportagem, "Rebolation", do grupo baiano Parangolé, continua viva na memória do público e deve continuar assim até depois do Carnaval. Agora, sim, pode chamar a polícia.

PS - Depois de que a matéria ficou pronta, outros hits surgiram, ok? Ou seja: não exija rigor dessa lista.

5 comentários:

  1. Omar, parece até aquela história do “Deus dá nozes a quem não tem dentes”, ou algo assim, né? Já reparou que as pessoas com som mais potente são as que tem pior gosto musical? Infelizmente, não se vê por aí ninguém com som no talo ouvindo punk, ska, pós-punk, new wave, indie, MPB ou samba de raiz…

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  2. Pessoalmente, prefiro a morte do que ouvir samba de raiz num som potente. Mas gosto é gosto, né? rs

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  3. Hehe. Excelente! Abaixo os preconceitos! - Mas que dói no ouvido, dói!...

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  4. A expressão “de raiz” está meio desgastada, mas a usei com a intenção de caracterizar uma oposição a “pagode comercial”. Não dá para comparar Noel, mestre Cartola, Paulinho da Viola ou Dona Ivone Lara com o lixo produzido por esses “grupos de pagode” que há por aí. O mesmo vale para as autênticas modas de viola, que nada tem a ver com o “sertanojo” de hoje. Assim como o verdadeiro rock’n’roll não comporta coisas horrendas como emocore e metal melódico. E por aí vai…

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