Se não fosse a mão boa do diretor David Fincher, A Rede Social seria um saco. Mas não é.
O filme sobre o "fenômeno Facebook" consegue ser intenso e envolvente. Principalmente depois dos primeiros 10 ou 15 minutos, meio confusos.
Ainda assim, fica a impressão de que poderia durar meia hora. Afinal, o eixo narrativo se concentra na chatíssima e previsível confusão judicial em que o criador do site se meteu graças a sua ética, digamos, distorcida.
Apresentado como um geniozinho babaca, Mark Zuckerberg atravessa a história sacaneando amigos e parceiros - e fingindo que não é com ele. Como os sacaneados são igualmente escrotos, fica tudo por isso mesmo.
Se este é o retrato da geração que vai tomar (ou já tomou) conta do mundo, estamos ferrados.
Meio mal acabado, tem cara de que foi feito às pressas. Mas é o preço que os fãs pagam pela oportunidade de ver um trabalho do diretor por ano. Como eu sou um deles, não posso reclamar muito.
E nem é para tanto, pois o filme - um dos mais pessimistas do cineasta - tem vários elementos interessantes. A começar pela presença da ótima (em todos os sentidos) Naomi Watts. Só a última, e tristíssima, cena dela com o Banderas já vale pela sessão inteira.
No mais, é chover no molhado. Se você não curte o cara, nem saia de casa.
Cidadão Instigado mostra hoje em Curitiba sua mistura instintiva de referências
De volta a Curitiba, o grupo Cidadão Instigado apresenta hoje o repertório daquele que talvez seja o último grande disco brasileiro da década passada: ''Uhuuu!'' (2009). Menos radical do que os dois álbuns anteriores da banda, o material consolida a combinação instintiva de referências promovida pelo líder Fernando Catatau. Uma mistura de Pink Floyd com Odair José, Dire Straits com Tom Zé, psicodelia nordestina com rock de FM...
Para o show desta noite, que acontece no John Bull Pub, Catatau promete tocar pelo menos metade da canções do registro do ano passado (produzido com recursos do Prêmio Pixinguinha, patrocinado pela Funarte). E se o sexteto estiver ''no clima'', pode até se arriscar em covers de Sérgio Sampaio e da Legião Urbana. ''Não sou o melhor cantor para fazer isso, mas a gente tenta'', brinca o músico cearense, em entrevista à reportagem da FOLHA.
Conhecido por seu talento como guitarrista, Catatau já fez parte da banda de apoio de Vanessa da Mata e hoje acompanha nomes como Otto, Karina Buhr e Instituto. Também produziu o último disco de Arnaldo Antunes e prepara o próximo solo de Siba (Mestre Ambrósio). Entre um trabalho e outro, ainda mantém um projeto instrumental e dá os primeiros passos como compositor de trilhas sonoras (é dele a música de ''Transeunte'', primeiro longa de ficção do diretor Eryk Rocha).
A voz, no entanto, é um elemento que ele mesmo considera ''em evolução'' dentro da proposta do Cidadão Instigado. Isso explica, em parte, a guinada melódica percebida em ''Uhuuu!'' - e que deixou o som do grupo mais acessível. ''No início, como eu não conseguia direito cantar e tocar ao mesmo tempo, as músicas eram mais faladas. Vou fazendo as coisas de acordo com as minhas dificuldades'', reconhece.
Dificuldades que, por sinal, são a matéria-prima das letras de Catatau, marcadas por uma ingenuidade às vezes desconcertante. Não que todas as suas composições sejam melancólicas, mas a maiora delas trata de solidão, amores doloridos, devaneios, inadequação. Radicado em São Paulo há mais de dez anos, o artista conta que sentiu na pele o preconceito contra os nordestinos. E foi justamente desse isolamento que surgiu o Cidadão Instigado.
Questionado sobre a onda antinordestina iniciada após a terceira vitória seguida do PT nas eleições presidenciais, o cearense não se mostra chocado. ''Isso existe desde sempre. A diferença é que, antes, só se dizia entre amigos. Agora tem a internet, o Twitter, o Facebook. As pessoas se sentem mais soltas para falar as coisas por aí, e todo mundo acaba sabendo'', diz.
Antes de encerrar a conversa, Catatau falou sobre o próximo disco da banda, previsto para 2011. Segundo ele, o repertório está quase completo e as gravações vão começar com ou sem recursos públicos. ''O Prêmio Pixinguinha só rolou porque as meninas que produzem a gente inscreveram um projeto. O álbum sairia de qualquer jeito'', garante. E completa: ''O apoio à cultura é importante, mas não gosto de política musical. Tem gente pensando só em projeto, ao invés de pensar em música''.
Vi Jackass 3D. Mas vou poupá-los dos detalhes sórdidos. Pelos nomes de alguns esquetes, já dá para sentir o drama:
Roller-skate Buffalo Midgets in a Bar Fight Super Might Glue Dildo Gun Sweat Suit Cocktail Pin the Tail on the Donkey Helicocker Apple of my Ass Lamborghini Tooth Pull Penis Peeing Camera Gorilla in the Hotel Room Poo Cocktail Supreme
Só digo uma coisa: faz tempo que eu não ria tanto no cinema!
Ontem, disse aqui que Minhas Mães era pouco complexo, ainda que se travestisse de filme ousado. Pois Cyrus é exatamente o contrário: muito mais profundo do que seu apelo de comédia familiar promete.
Em seu primeiro trabalho distribuído mundialmente, os promissores irmãos diretores Jay e Mark Duplass apostam na economia para fazer o espectador refletir e se emocionar. E como conseguem!
O ótimo John C. Reilly vive o personagem principal, um quarentão que não consegue superar o divórcio. Detalhe: a ex-mulher o abandonou há sete anos!
Em meio a uma depressão ferrada, ele se embebeda numa festa e acaba transando com uma MILF sensacional (Marisa Tomei, que dispensa outros adjetivos). Os dois se envolvem rapidamente, mas encontram um obstáculo pela frente: o filho superprotegido e esquisitão dela (Jonah Hill).
Até aí, imagina-se estar diante de um filme bonitinho, engraçadinho. O que vem a seguir, no entanto, também é carregado de drama e, em alguns momentos, até de suspense. Impossível não se surpreender com a sensibilidade dos Duplass neste clássico instantâneo do "cinema masculino".
Minhas Mães e Meu Pai é o Juno da vez. O Pequena Miss Sunshine da vez. O filme independente americano mais badalado da temporada, cotado até para faturar um Oscar.
Resumindo: o verniz sugere um produto mais ousado, enquanto a linguagem garante a adesão do grande público, que consegue se identificar com os personagens "estranhos". É o que chamo de alternativo corporativo (acho que li isso em algum lugar, faz tempo).
Isso não significa que seja ruim - apenas pouco complexo. O que não deixa de ser uma opção da diretora e roteirista Lisa Cholodenko. Em tom de comédia, ela conta a história dos filhos crescidos de um casal de lésbicas que procuram o pai biológico, doador de esperma. Um encontro que vira a família de cabeça para baixo.
Tenho certeza de que muita gente vai considerar a mensagem moralista. Eu mesmo pensei assim em alguns momentos.
Afinal, a cineasta apresenta figuras extremamente liberais, bem resolvidas e politicamente corretas - mas que também (re)agem de forma conservadora diante das crises. Como se as pessoas que adotam um modelo não convencional de família sempre estivessem fadadas a cometer os mesmos erros das "normais".
E se estiverem? Saí do cinema com essa pergunta na cabeça. Valeu o ingresso.
Matéria para a Fôia, sobre a rapper que gravou um dos meus discos nacionais preferidos de 2010.
UMA MC SEM CLICHÊS
Paulista Lurdez da Luzé destaque de festival de rap que acontece amanhã em Curitiba
Pouco comentada, mas passando por um bom momento, a cena curitibana do rap se encontra novamente amanhã, no Moinho Eventos. Cerca de 2 mil pessoas são esperadas para o festival Yo! Sallve 10, produzido por uma marca de roupas da cidade. No elenco, mais de dez artistas locais e de outros estados - entre eles Pentágono, Contrafluxo, Elo da Corrente, Rapadura e Cabes. O destaque fica por conta da paulista Lurdez da Luz, responsável por um dos melhores discos da temporada.
Conhecida no meio do hip-hop por seu trabalho no projeto Mamelo Sound System (ao lado de Rodrigo Brandão), a MC de 30 anos lançou este ano o primeiro material solo, autointitulado. São nove faixas marcadas por uma combinação de elementos eletrônicos e orgânicos, com fortes tintas brasileiras. Acompanhada por DJs e instrumentistas ''de verdade'', ela aposta em timbres e texturas que remetem o ouvinte à sonoridade dos discos nacionais dos anos 60 e 70.
A candidata a hit ''Andei'', por exemplo, apropria-se do tema homônimo composto por Hermeto Pascoal, também gravado por Airto Moreira e Flora Plurim. Já em ''Corrente de Água Doce'', a influência vem dos ritmos regionais nordestinos e é reforçada pela participação especial de Jorge du Peixe, vocalista da Nação Zumbi.
''Não sou muito enciclopédica. Faço pesquisa musical no dia-a-dia, porque tenho prazer com arte. E, nos últimos quatro anos, escutei muito mais música brasileira do que rap'', diz a MC, em entrevista por telefone à reportagem da FOLHA. ''Minha ideia é transformar o universo do canto falado numa linguagem mais musical, mas não apenas sampleando bases antigas'', acrescenta.
Outra boa surpresa do disco de estreia é a temática diferenciada, que explora o amor em suas mais variadas formas (homem-mulher, mãe-filho, etc.). Com uma feminilidade natural, sexy sem ser forçada, Lurdez cria identificação com as ouvintes e ainda dá dicas interessantes para os marmanjos. Como na faixa ''Eu Sou o Cara'', em que se coloca numa posição masculina para mostrar como uma mulher gosta de ser tratada.
''Tentei me desvincular dos clichês'', afirma a rapper, que promete um projeto ousado para 2011: gravar um álbum conceitual inspirado no livro/espetáculo musical ''Nas Quebradas do Mundaréu'', do dramaturgo Plínio Marcos. A proposta, ela diz, inclui uma homenagem ao samba paulista - mas sem deixar de lado a pegada do rap. ''Acho que nunca vou perder essa minha origem. Até porque, se isso acontecesse, o trabalho deixaria de ser relevante'', garante.
Atendendo a pedidos, OiGirl lança nova cor do acessório feminino para fazer xixi em pé
OiGirl agora está disponível também para quem busca uma opção mais discreta: a nova cor, cáqui, acaba de ser lançada e já é um sucesso de vendas no site da empresa.
Batizada de ‘OiGirl Camping’, a versão traz as mesmas vantagens, apenas com mais uma opção de cor, que foi um pedido de algumas usuárias do tradicional OiGirl, fabricado na cor pink.
(...) A idéia pode parecer estranha, a princípio, mas quando as mulheres se deparam com banheiros sujos, situações inadequadas, elas percebem que o acessório é bastante útil e prático.
OiGirl tem os seguintes diferenciais: fácil utilização por ser totalmente anatômico; é fabricado com 100% silicone medicinal flexível – além de ser reutilizável. Após o uso, pode ser higienizado com água e sabão ou guardado para posterior limpeza.
E continua o resgate da segunda divisão do indie 90. Hoje: outra banda com dois baixos (Ned's Atomic Dustbin, sugestão do Luciano Kalatalo) e uma versão feminina do Morrissey (Echobelly).
Senna, o documentário, já ganhou pontos comigo pelo trailer maneiro e por ser uma produção internacional - o que garante, teoricamente, uma certa isenção ao projeto. Imagina se fosse da Globo Filmes?
Claro que o personagem é tratado com extrema reverência (e a Globo se faz presente o tempo todo, seja nos depoimentos do Reginaldo Leme ou nas narrações do Galvão). Mas, nas entrelinhas, percebe-se também o lado, digamos, "obscuro" do piloto - um sujeito meio esquisitão, dono de uma fé cega e refém das metas que traçou para si.
O que mais me tocou, no entanto, foi a percepção de que Senna é o herói solitário de um período em que o Brasil estava numa merda sem tamanho. Seu auge aconteceu entre os governos Sarney e Collor, marcados por planos econômicos desastrados e uma certa frustração com a abertura política. Como se não bastasse, nem a seleção de futebol, numa de suas piores fases, consolava o povão.
"Ele é a única coisa boa do Brasil, né?", diz uma anônima qualquer, em uma imagem de arquivo. Mais emblemático, impossível.
De resto, trata-se de um filme inteiramente construído com material de gaveta e pontuado por "offs didáticos" de especialistas em automobilismo. Há, ainda, uma espécie de subtrama dedicada à rivalidade com o francês Alain Prost (digna de uma história de ficção). E antes que alguém pergunte: Xuxa e Galisteu dão as caras, sim.
PS - Ainda quero ver um documentário sobre o bad boy Piquet.
Erasmo, não apenas vice-líder da "guarda" de Roberto mas seu parceiro em todas as composições, nunca pareceu atraído sinceramente por nada que não fosse do mundo do rock, e tanto o despojamento do seu canto quanto a energia sexual de sua presença cênica (alto, pesado, firme, com o ar antiintelectual e anti-sentimental de quem vive os temas essenciais da vida com o corpo todo, nessa combinação de homem pós-industrial e pré-histórico para a qual o rock apontou com tanta insistência em toda parte do mundo) fizeram dele para sempre uma figura de tão imponente inteireza que nem as oscilações do mercado, nem as eventuais ingratidões de novos roqueiros, nem o desprestígio do rock como acontecimento cultural de interesse podem abalar.
Os jovens machos e fêmeas desenvolvem um potente impulso para explorar e patrulhar a sua cena social. Passam grande parte do tempo passeando sem objetivo ou parados observando em grupos masculinos e femininos.
(...) Os jovens pares, ao se formar, começam a se isolar dos grupos, e segue-se um padrão de crescente intimidade corporal.
O título acima faz referência a outro post, sobre Se Beber Não Case - trabalho anterior do diretor Todd Phillips, o novo "rei da comédia" em Hollywood. É que o tema permanece o mesmo.
Especialista em filmes de "homens fazendo merda" (um dos meus gêneros favoritos), ele agora ataca com Um Parto de Viagem. No elenco principal, a revelação do humor em 2009 (Zach Galifianakis) e o astro adulto do momento (Robert Downey Jr., claro).
Nem precisa dizer que a química entre os dois é garantida. Mas o inusitado, aqui, é ver o Homem de Ferro, o Sherlock Holmes, encarnando um sujeito comportado, careta. E sendo extremamente generoso com o colega de cena.
A história é manjada. Dois viajantes de perfis radicalmente opostos são obrigados, por ironia do destino, a atravessar juntos os EUA. Impossível não lembrar de Antes Só do que Mal Acompanhado, do mestre John Hughes (com Steve Martin e John Candy). A diferença é o toque, digamos, escatológico e canábico de Phillips.
Para terminar o pitaco, uma tese meio tola - como sempre. Se no filme do ano passado os homens faziam besteira por fazer, neste eles fazem tentando acertar. Já é um avanço, não?