ENTREVISTA: CATATAU (CIDADÃO INSTIGADO)


Outra para a Fôia.

PINK FLOYD COM ODAIR JOSÉ

Cidadão Instigado mostra hoje em Curitiba sua mistura instintiva de referências

De volta a Curitiba, o grupo Cidadão Instigado apresenta hoje o repertório daquele que talvez seja o último grande disco brasileiro da década passada: ''Uhuuu!'' (2009). Menos radical do que os dois álbuns anteriores da banda, o material consolida a combinação instintiva de referências promovida pelo líder Fernando Catatau. Uma mistura de Pink Floyd com Odair José, Dire Straits com Tom Zé, psicodelia nordestina com rock de FM...

Para o show desta noite, que acontece no John Bull Pub, Catatau promete tocar pelo menos metade da canções do registro do ano passado (produzido com recursos do Prêmio Pixinguinha, patrocinado pela Funarte). E se o sexteto estiver ''no clima'', pode até se arriscar em covers de Sérgio Sampaio e da Legião Urbana. ''Não sou o melhor cantor para fazer isso, mas a gente tenta'', brinca o músico cearense, em entrevista à reportagem da FOLHA.

Conhecido por seu talento como guitarrista, Catatau já fez parte da banda de apoio de Vanessa da Mata e hoje acompanha nomes como Otto, Karina Buhr e Instituto. Também produziu o último disco de Arnaldo Antunes e prepara o próximo solo de Siba (Mestre Ambrósio). Entre um trabalho e outro, ainda mantém um projeto instrumental e dá os primeiros passos como compositor de trilhas sonoras (é dele a música de ''Transeunte'', primeiro longa de ficção do diretor Eryk Rocha).

A voz, no entanto, é um elemento que ele mesmo considera ''em evolução'' dentro da proposta do Cidadão Instigado. Isso explica, em parte, a guinada melódica percebida em ''Uhuuu!'' - e que deixou o som do grupo mais acessível. ''No início, como eu não conseguia direito cantar e tocar ao mesmo tempo, as músicas eram mais faladas. Vou fazendo as coisas de acordo com as minhas dificuldades'', reconhece.

Dificuldades que, por sinal, são a matéria-prima das letras de Catatau, marcadas por uma ingenuidade às vezes desconcertante. Não que todas as suas composições sejam melancólicas, mas a maiora delas trata de solidão, amores doloridos, devaneios, inadequação. Radicado em São Paulo há mais de dez anos, o artista conta que sentiu na pele o preconceito contra os nordestinos. E foi justamente desse isolamento que surgiu o Cidadão Instigado.

Questionado sobre a onda antinordestina iniciada após a terceira vitória seguida do PT nas eleições presidenciais, o cearense não se mostra chocado. ''Isso existe desde sempre. A diferença é que, antes, só se dizia entre amigos. Agora tem a internet, o Twitter, o Facebook. As pessoas se sentem mais soltas para falar as coisas por aí, e todo mundo acaba sabendo'', diz.

Antes de encerrar a conversa, Catatau falou sobre o próximo disco da banda, previsto para 2011. Segundo ele, o repertório está quase completo e as gravações vão começar com ou sem recursos públicos. ''O Prêmio Pixinguinha só rolou porque as meninas que produzem a gente inscreveram um projeto. O álbum sairia de qualquer jeito'', garante. E completa: ''O apoio à cultura é importante, mas não gosto de política musical. Tem gente pensando só em projeto, ao invés de pensar em música''.

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