"AS FORÇAS DA ACOMODAÇÃO SÃO SEMPRE MAIORES"


Fiz uma matéria de página inteira sobre Alô, Alô, Terezinha!, documentário do Nelson Hoineff que investiga o universo do Chacrinha. Vai sair no domingo, na Outra Folha.

Foi a terceira vez que entrevistei o Hoineff, criador do Documento Especial e um dos meus gurus na profissão. Para variar, o papo acabou descambando para o estado das coisas na comunicação em geral. Segue um trecho (sobre o filme, falo já, já).

De onde vem a inovação que o Chacrinha colocou no ar? Era algo intuitivo?
Cem por cento intuitivo. Porque ele não tinha uma formação teórica. Naquela época, diga-se de passagem, ninguém tinha. A televisão era vista como uma coisa de segundo time, e até hoje continua assim. A televisão ainda se comporta como uma débil mental em relação às outras formas de expressão.

Desde que o conceito de correção política apareceu e se consolidou, a sensação é de que há um processo de "higienização", de "sanitarismo" nos meios de comunicação em geral. Você concorda?
Não há a menor dúvida disso. Só não acho que isso começou agora, sempre aconteceu. Felizmente, existem espasmos bem-sucedidos de renovação, tentativas de ir em direção contrária. Casos como o do Chacrinha, do Paulo Francis e do próprio Documento Especial. Mas esse processo de pasteurização é sempre mais forte, e vai ganhando cada vez mais adeptos. No fim das contas, a maior vítima é o espectador.

A sociedade quer esse padrão?
A sociedade não quer, ela é levada a isso. Porque esse padrão é apresentado como a única opção. O cardápio oferecido é muito estreito, porque a visão de quem faz é estreita. As forças da acomodação são sempre maiores. O cara não quer perder o emprego, não quer pensar. Esse projeto de uma tevê entorpecedora, generalista, que nivela tudo pelo gosto médio é realmente vencedor. E o que me encanta no Chacrinha é que ele pode ter perdido a guerra, mas ganhou algumas batalhas radicalizando na incorreção.

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